28 novembro 2005

Após toda a intensidade, 26.

Faltam menos de 20 dias, mas o balanço já pode ser feito. Esse ano talvez fique marcado como a transição definitiva entre a adolescência que eu tanto tentei (tento?) extender e o início da minha real vida adulta. Se por um lado eu ainda sou um garoto que compra "chips" no mercado pra colecionar as figurinhas dos heróis Marvel (com o principal intuito de fotografá-las, é bem verdade), por outro eu agora tenho um emprego mesmo. Eu acho.

O ano de 2005 me reservou algumas das emoções mais intensas que já vivi. Bom, também é certo que as últimas emoções sempre nos são as mais avalassadoras. A última separação sempre nos parece a pior; a última dor sempre é a mais profunda; o último amor, sempre o eterno. A última derrota sempre deixa as piores mágoas e frustrações. O fato é que em 2005, por mais que eu puxe pela memória diversos acontecimentos marcantes na minha vida, tudo foi realmente muito mais intenso. E por mais que eu tenha lidado melhor com algumas situações que se repetiram, o que ficou interiorizado deixou marcas muito mais profundas. Marcas e lições.

Talvez eu tenha exteriorizado exageradamente algumas reações para acontecimentos pífios, da mesma forma que dei vazão de forma contida a coisas realmente grandes. Explicando de forma mais simples, funciona como o exemplo clássico da minha forte característica de "fazer tempestade em copo d'água" ou então de ouvir a frase "o mundo acabando do teu lado e isso é tudo que você tem pra dizer?". Devo desculpas nos dois casos.

Mas voltando ao assunto, chego aos 26. Perigosamente mais perto dos 30 do que dos 20. A metade final dos meus 25 me foi especialmente realizadora. Com minha banda, realizei alguns dos shows mais divertidos e gratificantes da curta história. Por exemplo, gravamos um DVD com 400 pessoas num lugar onde cabem 300. No campo profissional, fortaleci ainda mais a amizade com meu sócio e finalmente demos vida ao projeto de viver daquilo que gostamos. Está bem no comecinho ainda, mas as expectativas são as melhores possíveis. Aproveito pra convidar todos vocês a darem uma olhadinha no site. Meu relacionamento com meus pais parece ter atingido outro nível também. Passamos da frieza cômoda que tínhamos por aqui para trocas de carinho e palavras doces e sinceras. Até emails temos trocado, vejam só. Tudo isso culpa de algo que aconteceu há cerca de 90 dias. Nos últimos 3 meses alcancei níveis de certeza e maturidade num sentimento que até então eu desconhecia. Algo que me deu serenidade e foco para ver a vida com olhos mais complacentes e despreocupados. Pula uma linha. Parágrafo. Travessão.

- Viro nessa aqui?
- ...???

Não, não era ali que eu tinha de virar. O destino fez com que a rua fosse exatamente perfeita para o que eu tinha em mente (desculpa, foi mesmo planejado). Óbvio que eu não fazia idéia de que rua era aquela. Da mesma forma que eu poderia ter dado de cara com uma procissão à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, eu poderia ter dado num beco escuro e sem saída, embaixo de uma árvore. Opção 2, o destino conspira a favor. Entrei numa rua errada, roubei um beijo e assim começou. Um pouquinho de resistência, porque eu concordo, era mesmo estranho e tinha tudo para dar errado. Mas a cabeça aqui é dura e bom... 4 ou 5 "é melhor não continuar com isso" não foram suficientes. Eu disse que não iríamos nos arrepender e que merecíamos essa chance. E não, não é pouco tempo. Não é cedo pra termos tantos planos e certezas. Se pararmos pra pensar, poucos casais com 3 meses de relacionamento conviveram tão juntos quanto nós. Dormindo e acordando do teu lado, resolvendo problemas práticos do dia-a-dia de um casal que mora junto no decorrer das semanas. Viajando com tua mão na minha nuca ou na minha perna por mais de 4 mil quilômetros, entre idas e vindas. Enfim, vivendo juntos. Não gosto do termo "você me completa", porque eu tenho comigo a idéia de que tudo que eu preciso pra ser feliz está aqui dentro de mim. Já nasci completo. O que eu precisava era de alguém que viesse somar (e não, isso não é um time de futebol, senhores). Que trouxesse coisas novas e me ensinasse, sem esforço, como é ser adulto no sentimento. Porque é exatamente assim que eu me sinto. Adulto no sentimento, no sentido de que, por mais que esse amor queira explodir dentro de mim, é com toda calma e tranquilidade que eu externo pro mundo o que eu sinto. Não precisamos de corações pulando na tela ou de palavras açucaradas (por mais que pessoalmente eu já tenha ouvido os "estourinhos" dos corações e as palavras escorram mel) para termos certeza. É pra sempre, é pra ser esposa e caminhar comigo até o fim.

Estou chegando aos 26 realizado e satisfeito com o que consegui até agora. Muitas vezes eu não sei mesmo o que eu quero da vida, e
fui trilhando caminhos embaralhados e confusos, encontrando pedaços de alegria e muitas incertezas por 25 curtos anos.
Ainda agora, que tenho tanta certeza de muitas coisas, ainda não sei exatamente o que eu vou ser da vida. Eu li esses dias algo como "as pessoas mais interessantes que conheci não sabiam o que queriam ser da vida aos 20 anos. Algumas delas ainda não sabem aos 40". Bom, eu sei que tenho objetivos e foco (e uma objetiva que não faz foco, mas essa é uma piadinha ruim de fotógrafo). A tranquilidade e alegria que encontrei nesse relacionamento me deixam livre pra me estressar e me preocupar com outras coisas, pra resolver minha vida em outros sentidos. Sabe quando você estava no colégio e tinha passado nas matérias das quais você mais gostava e só precisava estudar pra prova final de química? É parecido. E é como todo namoro deveria ser, mas só pode chegar nesse nível de cumplicidade e comprometimento quando você está preparado, ensinado e realmente vacinado pela vida. Um namoro sempre foi um relacionamento que deveria funcionar como um porto seguro, um lugar pra onde você vai quando tudo mais dá errado. Não é pra ser mais uma tempestade em alto mar em meio a tantas que você enfrenta todos os dias. E hoje é assim. Maduro, sólido e verdadeiro. Como nunca.

Durante os próximos 25 anos eu vou chegar aos 30, 40 e 50. É mais do que eu espero pra mim. Vivi os últimos anos com toda a intensidade que eu pude. E em diversos segmentos da minha vida eu vou continuar fazendo isso. Amar intensamente, fazer os shows com a mesma energia. A diferença é que eu tenho uma base de suporte tranqüila e que recarrega as baterias pra estarem sempre 100%, pra explodir no momento certo. Com níveis de perda mínimos.

Ainda faltam alguns dias, mas parabéns pra mim. No final das contas, acho que sinceramente posso me orgulhar do que eu realizei até agora. Deixei muita coisa inacabada pelo caminho, mas fiz minhas escolhas e estou satisfeito com elas e com o que elas me trouxeram. Pra onde elas me levaram, e principalmente para quem elas me entregaram.