31 julho 2008

(Quase) todos estão surdos.

Desde a última atualização do iTunes (versão 7.7), os scrobbles do iPod no last.fm deixaram de funcionar corretamente. Isso significa que as músicas que ouço no aparelho não mais contabilizam na minha conta do site. Que importância isso tem? A princípio, nenhuma. O prazer (por oras dever, muitas vezes apenas costume) de ouvir música não está relacionado ao fato de que as pessoas fiquem sabendo o que ando ouvindo. O last.fm pode ser, também, um site de relacionamento. Mas antes de tudo, ao menos pra mim, é um site que revolucionou a relação virtual das pessoas com a música.

A forma como ouvimos música online, conhecemos novos artistas, trocamos sugestões e recebemos indicações, tudo se tornou mais fácil com o site. Não ter as músicas que eu ouço no iPod adicionadas à minha conta implica numa redução dessas indicações e sugestões. Outro ponto negativo é que a minha rádio pessoal no site não tem sido abastecida com novos artistas. Isso deixou de ser um problema desde que adquiri o iPod, pois agora minhas músicas - 29.406 até o presente momento - estão comigo onde eu for. Mas é muito legal poder ouvir meus artistas preferidos através do site, onde quer que eu esteja.

Por outro lado, descobri esses dias que o muxtape também pode ser vinculado ao last.fm! Ponto pro site, que pra ser perfeito só falta adotar o layout do mixwit, com as fitinhas K7 antigas. Pra quem não sabe, esses dois sites permitem que você crie mixtapes virtuais. Mixtapes são aquelas coletâneas em fita K7 que a gente (pessoal dos anos 80) gravava, geralmente pra dar de presente pra alguém. O esquema ainda vingou no começo dos CD-Rs, mas hoje em dia é prática extinta, imagino. Bom, pelo menos nos moldes antigos. Eu gosto do muxtape porque posso fazer coletâneas com as músicas que tenho no meu PC e gosto do mixwit porque posso fazer coletâneas com músicas que eu não tenho no meu PC! Como já dito, se por um lado o muxtape (limite: 12 músicas) tem esse link com o last.fm, o mixwit (limite: não descobri ainda) ganha no layout: você pode escolher entre dezenas de modelos de K7 antigos ou mesmo criar o seu a partir de uma foto qualquer. Inclusive a fitinha "roda" conforme a música toca. Bem legal! Útil, por exemplo, pra quem não tem um mp3 player e quer ouvir música no trabalho. Você entra no site e pronto, deixa rolar. Dá pra fazer isso pelo last.fm também, mas sem o charme de ser uma coletânea preparada por você. Ou que alguém tenha preparado pra você.

Voltando ao início do post, espero que o problema da interação iTunes/iPod/last.fm se resolva, pois disso depende minha constante renovação de novos artistas. Aproveitando o gancho, o que vocês andam ouvindo? Sugiram alguns artistas e discos, da mesma forma que fizeram com os livros. Aliás, em tempo: obrigado pelas dicas!

24 julho 2008

Carissa's Wierd - 2004 - I Before E



1. Phantom Fireworks
2. Die
3. Blue Champagne Glass
4. Heather Rhodes
5. One Night Stand
6. Drunk With The Only Saints I Know
7. Brooke Daniels' Tiny Broken Fingers
8. Bathtile Green
9. September
10. Ignorant
11. Blankets Stare
12. Fluorescent Light

Aqui: http://www.mediafire.com/?ngkmt1imgmm

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Último álbum da banda antes da dissolução. São 3 inéditas gravadas em estúdio e mais 9 sons ao vivo. Aproveitei esse post pra atualizar os links dos outros discos que estavam expirados, confira aqui.

23 julho 2008

The Gentle Art of Making Enemies

Eu sei, o mundo inteiro tá nessa onda oriental-zen-budista-meditação-paz-e-amor, e não é de hoje (malditos hippies). Mas sabe o que é bom de verdade? Odiar alguém. Sabe o que é melhor? Odiar alguém gratuitamente. Sério mesmo! Esqueça toda essa bobagem de amar ao próximo, de fazer o bem sem olhar a quem, altruísmo e o caralho de asa a quatro. Você pode escolher uma meia dúzia de pessoas pra odiar na vida. Do tipo "pessoas em quem eu gostaria de dar um tiro no cu". É catarse, manja? Tipo xingar o juíz no futebol. Só que muito mais legal.

Isso não te transforma automaticamente numa pessoa má. É simplesmente uma característica humana. Já que citei futebol acima, vale lembrar que esse é o segundo esporte preferido do brasileiro. O primeiro é falar mal dos outros, fato! A não ser que você seja uma reencarnação do Buda ou esteja nessa de atingir elevação espiritual. Ok, eu acho essa última opção válida. Mas odiar assim de graça umas 3 ou 4 (ou 20) pessoas no mundo inteiro não quer dizer que você não possa ser bom e desejar o bem de todas as outras.

Você pode ser um cara engajado em causas sociais e, ao mesmo tempo, odiar pessoas. Inclusive pseudo-intelectuais forçados pseudo-engajados em causas sociais. Esses são especialmente legais de se odiar. Pseudo-intelectuais e animais marinhos. Peixes, focas e coisas assim. Odeio, todos. Assim, de graça mesmo! Tá, não exatamente de graça. Digamos que sem motivo. O que não dá exatamente no mesmo.

Odiar sem motivo é tipo "ah, não gosto dessa pessoa", ao que você responde "não sei" quando te perguntam "Por quê?". Já odiar de graça é tipo "eu quero que essa pessoa caia no fundo do mais profundo poço e permaneça lá pelo resto da vida, e se me derem uma pá eu jogo mais terra em cima, e se ela sair de lá eu espero que enfiem um cano de PVC no cu dela e soltem um rato na outra ponta", ao que você responde "não sei" quando te perguntam "Mas por quê?". É uma diferença sutil, percebam.

A bem da verdade, você não deseja mesmo que a pessoa morra. Nem mesmo que ela quebre uma perna. Obviamente você vai soltar um maléfico "bem feito" quando ela quebrar, mas não é que você deseje o mal. É mais um exercício, porque é importante exercitar esse lado mal de maneira inofensiva. Porque nós todos temos isso, é intrínseco do ser humano. Mais saudável externar teus sentimentos ruins assim do que sair com o carro na intenção de atropelar alguém, ou quem sabe conseguir uma arma e entrar numa sala de cinema chacinando meia dúzia.

Era por isso que eu gostava tanto daquele fliperama House of the Dead, onde você descarregava todo barril do .38 em zumbis. Cada um daqueles mortos-vivos virtuais tinha um nome bem real, podem ter certeza. Mas é inofensivo. Eu descarregava minha ira ali e pronto, tomava um sorvete e saía cantarolando, aliviado e renovado, pronto pra exercitar com muito mais afinco meu lado bom.

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Editando: ...e além de tudo, não colocar pra fora essas coisas dá úlcera!

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Editando 2: substituam todo o post acima por esse link aqui.

Devorando Livros 2

Tô dizendo, moçada: o lance é patológico!


As novas aquisições:
  • O prazer das palavras vol. 1 - Cláudio Moreno
  • O prazer das palavras vol. 2 - Cláudio Moreno
  • Blecaute - Marcelo Rubens Paiva
  • Ensaio sobre a cegueira - José Saramago
  • Memória de minhas putas tristes - Gabriel García Márquez
  • Crônica de uma morte anunciada - Gabriel García Márquez
  • Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
  • Eu sei que vou te amar - Arnaldo Jabor
Então pronto, 'tô abastecido pelos próximos 2 ou 3 meses! ;D

22 julho 2008

Planeta Água?

Estava eu folheando a Rolling Stone do mês - essa com Obama Bin Laden na capa - quando me deparei com a propaganda do Bradesco(mpleto). Entre outras chamadas apelativas que as empresas estão adotando hoje em dia pra se dizerem "verdes" e/ou amigas da natureza, tem o texto batido "aproximadamente dois terços da Terra é água", querendo dizer que o nome Terra é uma ironia.

Ah é? E embaixo da água tem o quê? Gelo?

20 julho 2008

Devorando livros

Venho devorando livros com a mesma intensidade com que tenho devorado Cheeseburgueres duplos no McDonald's, ultimamente. Pelas fotos recentes da milha silhueta vocês já podem imaginar que tem sido muitos. Esse ano eu li ou reli dezenas de livros. Dezenas, mesmo. A única coisa com que eu gasto mais dinheiro do que fotografia são livros. De fotografia, muitas vezes, mas quaisquer outros. Os livros da moda, os mais obscuros, os de autores preferidos, os indicados pelos amigos. Livros emprestados também servem, mas eu gosto de ter os livros. Aliás, não só livros. Revistas também, as mais variadas. Manuais de eletro-eletrônicos, jornais (aqui em casa assinamos dois), panfletos de tarólogas entregues no sinal , acompanhados dos panfletos de auto-mecânicas com ofertas de pneus recondicionados e escapamentos para todo tipo de veículo, instruções de "como fazer" em caixas de congelados, bulas de remédio (um clássico que eu realmente leio), modo-de-usar de cosméticos (conhecido como "leio até rótulo de shampoo no banho"), quadrinhos e, com uma frequência ligeiramente menor, blogs e websites diversos. Eu sou old-school, então até hoje ler algo que eu não possa segurar entre as mãos não é tão prazeiroso.

O que acontece é que eu tenho o péssimo costume de ler muito rápido. Não muito rápido no estilo leitura dinâmica, mas muito rápido. Do tipo 230 páginas em uma noite, como aconteceu com "Feliz Ano Velho" do Marcelo Rubens Paiva. Era madrugada, eu estava entediado olhando para os meus livros de cabeceira - são 75, contei agora - e resolvi subir ali no escritório do meu pai e dar uma fuçada na coleção dele. Achei esse do M R Paiva, desci pro meu quarto e em poucas horas cheguei ao final. Livro fudido! Recomendo. Mas voltando um pouco, o problema de ler assim tão rápido é que eu fico sem opções muito rápido, também. E então preciso emprestar livros dos amigos ou então comprar livros novos. E os livros que eu levo pra me acompanhar em viagens duram 2 noites. Eis que, então, chegamos ao que eu realmente quero escrever sobre, hoje: eu leio todo e qualquer livro que cai nas minhas mãos. E me obrigo a ler até o final, mesmo ele sendo muito ruim. O Cesinha vai discordar dizendo que eu fiquei com o 1984 dele por meses aqui em casa e não li mais do que 20 páginas. É verdade. Mas o livro simplesmente não me pegou. Eu estava lendo outros dois ao mesmo tempo, então esse eu devolvi sem terminar. Eis a excessão que confirma a regra, pois.

Meu último empréstimo atende pelo nome de "Casório?!". É, o livro da Marian Keyes, que escreveu Melancia e toda aquela série que as meninas adoram. Uma bobagem romântica melosa para mulheres, mas uma bobagem romântica melosa para mulheres bem divertida. E que na página 210 tem um trecho que me fez decidir, na hora de ir embora, pedir o livro emprestado para terminar de ler em casa. É esse aqui:
Aquele era um estado de coisas muito triste, mas a vida era assim mesmo, em todo raio de esperança aparecia uma nuvem, e cada fragmento de felicidade era pago com a dor de alguém.
Pra vocês terem idéia de como o caso de ler rápido é sério, eu estava exatamente na página 310 quando fui procurar esse trecho pra transcrever aqui. 100 páginas tinham se passado e, pra mim, pareciam 10. Eu tinha lido esse trecho há 5 minutos ou algo assim. Não mais de 15, com certeza.

"Cada fragmento de felicidade é pago com a dor de alguém." É uma frase forte e muito provavelmente vou me arrepender de transcrevê-la aqui, pois senão eu poderia plagiar e usar numa música minha qualquer hora. Agora as pessoas tem como descobrir. De qualquer forma, ela termina um capítulo com essa frase. Acho que é o jeito inglês contemporâneo, porque é exatamente o que o maldito do Bernard Cornwell faz em todos os livros dele. Você termina o capítulo sempre com uma frase de impacto que te faz virar a página imediatamente, aflito mas com ânimo renovado, e muitas vezes sentindo arrepios e com lágrimas nos olhos. Claro que "uma vergonha que ele merecia estar sentindo" não tem o impacto de "...mas então, apenas uma hora depois, tão cansados quanto os homens de Sagramor, os inimigos chegaram a Camlann." É um livro pra meninas, eu acho, não uma trilogia sobre batalhas sangrentas e jogos políticos que moldaram uma das lendas mais cultuadas até hoje. Mas é o equivalente feminino. Tem me divertido o bastante para que eu recomende não só para as amigas, mas pros amigos também. Eu sei que muitos de vocês são como eu, que lêem revistas "de mulher" do tipo Cláudia ou Marie Claire pra pegar umas dicas, de vez em quando (eu realmente faço isso), então o livro pode ser muito útil.

Faltam só 200 páginas agora e eu sei que provavelmente termine o livro essa noite e fique mais uma semana sem nada novo pra ler. Esse é o gancho pra que vocês usem os comentários (ou o email, MSN, qualquer contato que tenham comigo) pra indicar o próximo livro a ocupar meu tempo. Antes que as aulas comecem e eu me atole de livros sobre Publicidade e Propaganda.

19 julho 2008

Voltando

Eu ando reticente sobre escrever num blog outra vez. Percebe-se, sendo que a última postagem aqui é de Fevereiro. Mas ontem eu fiz uma viagem de cerca de seis horas, dirigindo sozinho meu carro à noite, enquanto muitos assuntos passavam pela minha cabeça. Um por quilômetro, em média. E foram muitos, muitos quilômetros.

Acontece que - pra variar - no dia seguinte (hoje) eu não me lembrava com clareza de absolutamente nenhum deles. Lembro vagamente que eu formulei teorias sobre como as coisas que sabemos / lembramos não podem simplesmente estar armazenadas todas elas no cérebro. É, foi uma coisa que eu ouvi meu pai dizer uma vez e ficou na minha cabeça, mas ainda preciso pensar mais sobre isso. Também compus nove ou dez trechos de músicas, das quais não lembro sequer uma frase agora. Preciso de um daqueles gravadores portáteis. Lembro que uma das canções que eu "fiz" se chama 304 e não tem nada a ver com os quilômetros. Mas de qualquer forma, estou eu aqui me propondo a postar mais uma vez num blog. E há pelo menos um fato concreto que me motivou: eu vou voltar a estudar.

Esses dias eu prestei o Vestibular de Inverno da UniBrasil. Escolhi Jornalismo. Ficou um tanto óbvio: que estudante de Jornalismo NÃO TEM um blog? Isso deve provavelmente ser até uma das matérias do curso hoje em dia. Mas calma, por enquanto eu estou na parte da história onde eu presto o vestibular. Acontece que eu passei. Em primeiro lugar! Pronto, agora oficialmente eu precisava de um blog. Mas, sempre tem um mas. Estou eu feliz por ter passado em primeiro lugar no meu curso (o que sequer me valeu uma bolsa de estudos) depois de quatro ou cinco anos sem frequentar aulas, aproveitando os últimos dias de férias, quando meu celular toca e a funcionária da UniBrasil me comunica que eu não poderei cursar Jornalismo à noite, pois "não fechou turma". Tá explicado o primeiro lugar no curso, acho que só eu fiz a prova. Enfim, me ofereceu a possibilidade de cursar Publicidade e Propaganda, que já era minha segunda opção, de qualquer forma.

Passado o parágrafo onde eu explico o porque de ter sentido vontade de postar novamente num blog, vamos ao parágrafo que explica o que eu NÃO SINTO mais vontade de postar. Espero que os "hoje eu..." não tenham muito espaço por aqui, a não ser que sirva de gancho pra eu confabular sobre alguma coisa. Resumindo, nada de diário. É, eu sei que os fakes do Orkut vão se desapontar, mas o que eu posso fazer? De qualquer forma, eles ainda tem bastante material antigo pra fuçar nos recantos obscuros da Internet.

(Eu comecei a escrever o que virá a ser REALMENTE o primeiro post dessa nova fase por aqui, mas vou guardá-lo pra amanhã. Sei que o número de linhas num texto de Internet é inversamente proporcional ao número de pessoas que o lêem até o final, então nos vemos amanhã).

28 fevereiro 2008

Sobre fotografia

Um trecho do capítulo "O HEROÍSMO DA VISÃO", do livro Sobre Fotografia, de Susan Sontag:

"Ninguém jamais descobriu a feiúra por meio de fotos. Mas muitos, por meio de fotos, descobriram a beleza. Salvo nessas ocasiões em que a câmera é usada para documentar, ou para observar ritos sociais, o que move as pessoas a tirar fotos é descobrir algo belo. (O nome com que Fox Talbot patenteou a fotografia em 1841 foi calótipo: do grego kalos, belo.) Ninguém exclama: “Como isso é feio! Tenho de fotografá-lo”. Mesmo se alguém o dissesse, significaria o seguinte: “Acho essa coisa feia... bela!”.

É comum, para aqueles que puseram os olhos em algo belo, lamentar-se de não ter podido fotografá-lo. O papel da câmera no embelezamento do mundo foi tão bem-sucedido que as fotos, mais do que o mundo, tornaram-se o padrão do belo. Anfitriões orgulhosos de sua casa podem perfeitamente mostrar fotos do lugar onde moram para deixar claro aos visitantes como se trata de uma casa, de fato, maravilhosa. Aprendemos a nos ver fotograficamente: ver a si mesmo como uma pessoa atraente é, a rigor, julgar que se ficaria bem numa fotografia. As fotos criam o belo e – ao longo de gerações de fotógrafos – o esgotam. Certas glórias da natureza, por exemplo, foram simplesmente entregues à infatigável atenção de amadores aficionados da câmera. Pessoas saturadas de imagens tendem a achar piegas os pores-do-sol; agora, infelizmente, eles se parecem demais com fotos.

Muitos se sentem nervosos quando vão ser fotografados: não porque receiem, como os primitivos, ser violados, mas porque temem a desaprovação da câmera. As pessoas querem a imagem idealizada: uma foto que as mostre com a melhor aparência possível. Sentem-se repreendidas quando a câmera não devolve uma imagem mais atraente do que elas são na realidade. Mas poucos têm a sorte de ser “fotogênicos” – ou seja, aparecer melhor nas fotos (mesmo quando não são maquiados ou beneficiados pela luz) do que na vida real. A circunstância de as fotos serem muitas vezes elogiadas por sua espontaneidade, por sua honestidade, indica que a maioria das fotos, é claro, não é espontânea. Em meados da década de 1840, o processo negativo-positivo de Fox Talbot começou a substituir o daguerreótipo (o primeiro processo fotográfico viável). Uma década depois, um fotógrafo alemão inventou a primeira técnica de retocar o negativo. Suas duas versões de um mesmo retrato – uma retocada, outra não – espantaram a multidão na Exposition Universelle de Paris, em 1885 (a segunda feira mundial e a primeira com uma exposição de fotos). A notícia de que a câmera podia mentir tornou muito mais popular o ato de se deixar fotografar.

As conseqüências de mentir têm de ser mais cruciais para a fotografia do que jamais seriam para a pintura porque as imagens planas, em geral retangulares, que constituem as fotos reclamam para si uma condição de verdade que as pinturas nunca poderiam pretender. Uma pintura falsificada (cuja autoria é falsa) falsifica a história da arte. Uma fotografia falsificada (retocada ou adulterada, ou cuja legenda é falsa) falsifica a realidade. A história da fotografia poderia ser recapitulada como a luta entre dois imperativos distintos: embelezamento, que provém das belas-artes, e contar a verdade, que se mede não apenas por uma idéia de verdade isenta de valor, herança das ciências, mas por um ideal moralizado de contar a verdade, adaptado de modelos literários do século XIX e da (então) nova profissão do jornalismo independente.

(...)"

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O livro saiu pela Companhia das Letras e se encontra facilmente nas livrarias.
Muda minha vida e me acrescenta muito a cada releitura. Recomendo.