27 abril 2010

A Place Called Home

06:15 am, pessoal bêbado de sono decolando de Webjet rumo a Curitiba, PR. Eu, Bil e Leo fomos presenteados com os últimos bancos da aeronave, aqueles que não deitam. A última coisa que eu lembro é de estar chorando de rir com alguma coisa que o Bil falava, mas já não me recordo o que era. Deitei a cabeça no assento da frente e tentei cochilar, meio sem sucesso.

"Eu só preciso existir e me sentir de volta ao meu lugar..."
(Deluxe Trio - Abate)

Pouco mais de uma hora depois, estávamos em Curitiba e a Dona Venância (minha mãe, que obvimente não se chama Venância, mas Therezinha) estava ali pra nos recepcionar. Carreguei meu carro com toda a bagagem de equipos do Zander pra livrá-los do incômodo no ônibus que pegariam rumo ao QG da LodiProd, também conhecido como Casa do Luan e do Chero. Chegando em casa foi o tempo de jogar a roupa suja (toda a roupa que eu tinha levado) pra fora da mala e pronto, eu estava dormindo.

"O que será que eu gosto tanto em você?"
(Zander - Battlefield)

Acordei no começo da noite na ânsia de um reencontro que não aconteceu. Ok, talvez amanhã. Curitiba estava estranha comigo. Eu sei, a gente ainda se ama. Só que parecia que estávamos brigados. Eu queria voltar pra estrada, minha cabeça esperava pelo show da noite (que não existia). Pela primeira vez, a volta pra casa era mais uma angústia que um alívio. Os caras do Zander obviamente estavam ainda mais esgotados que eu e virariam o dia dormindo. Eu precisava sair de casa, precisava ver gente. Precisava de quatro rodas no asfalto e uma nas mãos. Não tinha. Precisava de um abraço de boas vindas e um sorriso bem próximo. Não tinha. Precisava de coragem pra enfrentar dois dias de vida normal, de rotina. Não tinha. Eu queria te ver... mas isso era algo que só eu queria.

De qualquer forma, usei o tempo que tinha pra descarregar as fotos e vídeos da turnê do laptop pro meu desktop. Estávamos na metade da turnê e eu tinha cerca de 80Gb de material. Dormi de novo. Meu corpo estava exausto, a mente também, mas não sei... algo mais além do corpo e da mente estava agindo. A angústia e inquietação não passavam. O dia seguinte se arrastou até perto das 18:30, quando fui até o QG LodiProd pra encontrar mais uma vez com os caras. A ideia era gravarmos alguns depoimentos sobre a turnê. Fizemos isso e depois fomos dar uma volta pela cidade. Comemos no McDonalds. Entramos no James e o som estava muito ruim. Parecia realmente tudo fora do lugar. Minha cidade e todos nela estavam dispostos a me devolver pro mundo. E no dia seguinte eu atendi de bom grado a esse chamado. Era hora de voltar pra estrada.

25 abril 2010

Bob Marley & The Vikings

Acordei por volta das 10:30 de segunda-feira, dia 12 de abril. Na verdade os dias da semana pareciam sempre os mesmos, pra mim. Desde o início da tour, era sempre sexta ou sábado na minha cabeça. O foursquare me ajuda a lembrar de horários e datas, bastante útil.

Essas pausas em hotel são boas pra reorganizar a mala, separar as roupas sujas, verificar quantas cuecas e pares de meia ainda restam, essas coisas. Fiz isso, organizando também meus equipamentos de foto, e tomei um banho rápido. Por volta de meio dia todos estavam no saguão do hotel encontrando a grande fera Cassio, organizador do próximo show, na cidade vizinha de Canoas. Ainda não entendi muito bem a geografia local, mas sei que estávamos em Porto Alegre, o Cassio mora em Sapucaia do Sul e o show seria em Canoas. Tudo bem, vamos nessa! Carregamos os equipos em dois carros e partimos, ainda com muito sono e mais uma vez famintos.

Chegamos ao QG do Cassio em Sapucaia, o local onde dormiríamos após o show. Frigobar entupido de cerveja Polar, Xbox, WiFi e colchões pra nos esticarmos. Recepção de gala! Ficamos por ali meio dormindo, meio acordados, até que resolvemos que iríamos almoçar no Canoas Shopping. Pro meu desespero, o que nos esperava era uma caminhada curta até o trem / metrô e outra caminhada, essa não tão curta, até o shopping. E tudo de volta. Ok, vamos lá! Curativos nos pés refeitos, sol pegando com força, ciático me dá um olá, me manda um oi. Meu Stacker Triplo do Burguer King começou a ser devorado às 16:20. Duvido que ele tenha sobrevivido até as 15:00, com a fome que eu estava. Todos alimentados, voltamos pra Sapucaia e ficamos jogados no quarto do Cassio, conversando, vendo videos de black metal e bebendo polar. Alguns cochilaram, outros foram cortar o cabelo (e acabaram por fazer barba, cabelo e bigode), enfim... relax.

"... e se ela quiser beijar alguém não é problema seu, nem meu."
(Zander - Como arde, sô!)

Lá pelas 22:00hs chegamos ao Wave Music Hall, em Canoas. Descarregamos os equipos no camarim, demos um confere na estrutura de palco, luz e som e fomos comer na lanchonete ao lado. Mais sanduíches monstros. Era meu segundo ou terceiro X-Coração da tour, espetacular. Mais cervejas por ali, confraternizando com a galera local, sorriso ao ver que uma certa mocinha de PoA tinha aparecido... enquanto Marcelão e Leo usavam guardanapos pra montar um novo set list pra noite, que recebeu olhares de desaprovação do resto da banda (e meus também, era muita ousadia abrir o show com aquela música).

Pra uma segunda-feira, em Canoas - RS, o show até que contou com um público bacana. O local não era dos piores pra se fotografar. Claro que era todo preto, com excessão de uma parede de tijolos aparentes atrás do palco. Eu não sei de quem foi essa ideia, mas vocês podem imaginar o que acontece com a acústica de um lugar se você reveste a parede que fica atrás da bateria com tijolos a vista. Até onde eu sei esse foi um dos shows que mudou de lugar na última hora, então a estrutura da casa não era ideal em termos de som. O Leo sofreu um pouco com os pedestais e pratos caindo e tambores andando de um lado pro outro, o som da guitarra do Bil lembrava um pouco um chuveiro elétrico brigando com uma colméia de vespas, mas nada os impediria, nesse show ou nos próximos, de mandar toda brasa que tinham pra mandar. E assim foi!

Fotos do show em Canoas; Wave Music Hall:
http://venancio.tumblr.com/post/520285764/zandercanoas

O Cassio tinha mentido pra todo mundo que o show seria no dia do aniversário dele, então vários amigos dele apareceram e no final do show ainda rolou um parabéns / confraternização. Foi mais ou menos na hora em que o Bob Marley apareceu e levou a menina-sorriso embora. Não se pode ganhar todas. Voltamos pro QG ainda a tempo de acabar com as cervejas do frigobar do Cassio, dar algumas risadas e desmaiar. Disseram que dormi abraçado no MacBook, mas eu acho que é mentira.

No dia seguinte rolou um almoção na casa do Cassio e ele nos levou de volta pra Porto Alegre, onde a banda faria um show extra no Estúdio Aliens. No caminho todo o Luan tentava contato com o Knela pra agilizar nossa estadia na capital gaúcha por mais um dia, mas o cara (ou o celular do cara) tinha desaparecido. Chegamos no local por volta das 13:30. Obviamente estava fechado. Mais algumas ligações perdidas e finalmente conseguimos contato com o Knela, podendo assim liberar o Cassio que já estava atrasado pro trampo. Valeu por todo o corre, cara! Poucos minutos depois, o Knela chegou e fomos procurar um hotel pra ficar. Achamos um bem barato com espaço pra 4 pessoas. Os outros 2 (decidimos que seríamos eu e o Leo) ficariam no Estúdio. E então conhecemos outra grande fera desse rolê: Alemão.

"Eu sei que é dose e até estranho, não deveria me sentir assim..."
(Zander - Ponte Aérea)

Alemão é o dono do Estúdio Aliens, em Porto Alegre. São duas salas de ensaio com equipamento bem bacana com bar em anexo, no andar térreo. No andar de cima é a casa do cara. Um quarto muito doido repleto de memorabilia roqueira. Set lists de shows gringos, pôsteres e cartazes, centenas de CDs e DVDs, faixas, bandeiras e credenciais. O cara trabalha como roadie de bandas gringas que passam pelo Brasil, aluga equipamento pra show, toca numa banda, enfim... vive no rock. Já viajou pra Europa num esquema pé duro total, trampando de roadie por comida e lugar pra dormir, nos mostrou dezenas de fotos desse rolê maluco. Visualmente, o cara parece um bárbaro viking das histórias do Conan. Loiro, cabeludo, barba gigante trançada. Gente finíssima, nos ofereceu o que tinha e o que não tinha (e olha que o cara tinha um pouco de tudo). Estávamos tão à vontade que o Luan chegou a dormir na cama do cara e babar no travesseiro, enquanto assistíamos aos DVDs que o cara tinha, ouvíamos músicas e histórias, regados a cerveja Polar e um green de potência poucas vezes vista por esse organismo que vos escreve. Não que eu seja o pai do bol, muito pelo contrário. Conto nos dedos da mão quantas experiências naturais dessa espécie eu tive na vida. Mas bicho, eu estava vendo gnomos (e vikings). Entrei numa vibe tão errada que achei que o Alemão iria roubar meu rim e vender no mercado negro, tava começando a ficar Paranoid mesmo. O Airbourne mandava brasa no DVD do Wacken Open Air, o Luan babava, Marcelão lá no outro canto tomando uma cerveja sossegado e o Leo do meu lado tinha um semblante de quem havia se perdido e nunca mais seria encontrado. Nisso outros amigos do Alemão tinham chegado, alguns no mesmo visual viking e eu só pensava: "fodeu, vai morrer todo mundo!" Sei lá quantas horas depois consegui convencer os caras de que precisávamos comer alguma coisa e seguimos pro (dizem) tradicional Alfredo Restaurante e Café. No caminho a minha pira só me fazia pensar que quando voltássemos todo nosso equipamento de música e foto teria sido vendido e nós seríamos feitos escravos num barco viking.

O X-Coração do Alfredo me livrou um pouco dessa teoria maluca. Comi dois, gigantes. Voltamos pro estúdio e obviamente tudo estava na normalidade. Tentei relaxar no quarto que o Alemão tinha nos providenciado e comecei a me sentir mal por ter pirado tão errado. O cara realmente é uma fera, tava fazendo o possível pra nos acolher bem, e eu achando que seria assassinado. Ok, as paredes do quarto pichadas com crucifixos invertidos não me deixavam relaxar 100% naquele momento, mas só temos o que agradecer à hospitalidade do cara, mesmo!

"... ou você vai me ligar pra dizer que hoje vai complicar?"
(Deluxe Trio - Ou não?)

Porto Alegre talvez seja a cidade que abriga mais "conhecidos que não conheço". Pessoal com quem converso pela internet a algum tempo mas nunca encontrei pessoalmente. Uma amiga em especial não pode aparecer por lá pra dividir histórias e cervejas e isso me marcou um pouco, mas entendi... quem sabe da próxima.

No final das contas o Leo ficou no Estúdio mandando mais cervejas e fui pro hotel com o Luan e o Marcelão, pra tentar dar uma cochilada antes do show. Em turnê você aprende uma coisa básica: nunca deixe passar a oportunidade de 1) tomar banho, 2) se alimentar e 3) dormir. E assim foi, até o horário de voltarmos pro show no Estúdio Aliens. Na verdade, um ensaio aberto. Era uma sala de ensaio com equipamento muito bom (o melhor som da turnê até então, disparado) mas espaço pra não mais de 30 pessoas bem apertadas. A luz branca foi ótima pras fotos, pude brincar com ISO mais baixo pela primeira vez. As paredes lembravam a substância do relato anterior, meio verdes, meio amarelas, prensado... rolou legal, a banda pode experimentar uma mudança no set list, o ar condicionado fazia a sala me lembrar da minha cidade no inverno e enfim, eu estava em casa. Antes da meia noite o show já tinha acabado e estávamos mais uma vez na vibe da confraternização na área externa do Estúdio Aliens.

Fotos do show extra em Porto Alegre; Estúdio Aliens:
http://venancio.tumblr.com/post/522183091/zanderpoadois

A primeira coisa que li sobre Porto Alegre quando cheguei na cidade foi um recado do Cuper no Twitter dizendo que eu só precisava fazer uma coisa estando lá: comer no Speed. Mais uma vez o Cassio fez esse corre salva-vidas. Ele tinha colado no show e foi até a lanchonete buscar os pedidos. Era o meu sexto Xis-Coração em 2 ou 3 dias. O maior de todos e também o mais gostoso. Tínhamos um vôo marcado pras 6:00am, mas ninguém parecia se importar. Um pouco mais tarde, perto das 3:30am, voltei ao Hotel Acaju (que tinha um A caído e pra mim sempre será Hotel Caju) com o Sanfs e o Luan. Antes demos um oi pra Professorinha, figura lendária das calçadas da Farrapos, só pra conferir o material, sem aula particular.

Mais uma vez no hotel, mais um remanejamento na mala, menos horas de sono. Às 5:15am meu despertador tocou e era hora de partir pro aeroporto e deixar Porto Alegre pra trás.

A seguir: day off em Curitiba.

24 abril 2010

"Camisas do Iron Maiden...

... de Porto Alegre a Manaus."
(Zander - Senso)

Eu já conhecia o aeroporto de Porto Alegre, mas era tudo que eu tinha visto da cidade até então. Tinha combinado com o resto da banda que nos encontraríamos ali pra esperar o Knela, que organizou o show na cidade. Como o check in no hotel seria ao meio dia, iríamos todos juntos. Só que quando cheguei, às 11:40 de domingo, não havia ninguém lá.

Pensei comigo: "os caras tão se escondendo, é Pegadinha do Mallandro, daqui a pouco eles saem de trás de uma pilastra gritando RÁÁÁ!" Nada. Liguei no celular do Luan, caixa postal. A mesma coisa com os celulares do Bil, do Marcelo e do Léo. E agora, eu entro no próximo avião e volto pra casa!? Tentei ligar pra todos eles mais umas 48 vezes, até que o celular do Léo me respondeu com uns chiados macabros. Parecia aquelas gravações de filme de ET, com mensagens escondidas, tipo "fodeu, vai morrer todo mundo". Alguns minutos depois recebo uma ligação de um número desconhecido. Era o celular do Sanfs, o único que parecia funcionar naquele momento e único que eu não tinha anotado. Deveria.

Sanfs (ou Sanfona, ou Gabriel Arbex), é o cara mais centrado do Zander. O "Todo Sério". Você olha pro semblante do cara tomando um café, fumando um cigarro ou concentrado no laptop e sabe que ali está um cara em quem pode confiar. Imagino que seja o mesmo sentimento que os companheiros de banda devem ter quando o vêem esmirilhando seu instrumento, no palco. Sanfona não está ali pra brincadeira, amigo. Mas com certeza está se divertindo muito, o tempo todo.

"Queimo os meus pés, eu sei, mas não volto por nada."
(Deluxe Trio - 15 Quadras)

Com as intruções passadas pelo Knela (outra fera do rolê) por telefone, encontrei o ônibus da Infraero que me deixou na passarela do metrô. Meio metrô, meio trem... não sei bem o que é aquilo. Eu só sabia que tinha que descer na Estação Mercado. Vi que era a última, então não tinha como errar. Era 12:00am de domingo, estava bem vazio, foi rapidinho. Desci na estação e era pra ter alguém ali me esperando. Não tinha. Novas intruções por telefone, mais quadras andando com os pés arrebentados. Obviamente a rua até o Lido Hotel era uma subida. Jóia. Porto Alegre é bonita nessa região ali, aos domingos, ruas vazias. Não foi um sacrifício. Às 12:42 eu estava no pequeno quarto. Coloquei as pilhas e baterias pra carregar, ocupando cada tomada livre do quarto, arranquei o tênis e as meias pra dar um descanso pros meus pés, em estado deplorável, e desmaiei assistindo Rambo na televisão.

Quando acordei e tentei caminhar até o banheiro (não mais do que 2 metros), meus pés gritaram. Preparei um novo curativo e, após um convite bastante educado recebido por SMS pedindo para que eu liberasse o quarto (não me perguntem pra quê), desci até o hall e perguntei onde encontraria uma farmácia aberta. Pra minha sorte, eram só mais 3 quadras subindo a rua. Mertiolate, mais band-aid, esparadrapos e algodão. Voltei ao hotel e como algo na comunicação entre os pares deu errado, pude subir pro quarto e descansar mais um pouco.

Chegamos no Entre Bar lá por 20:00 e a última banda de abertura já estava tocando. Descarregamos e na entrada já senti que o esquema seria tenso. O lugar é BEM pequeno e estava ficando cheio. Guardamos o equipo num quartinho e começamos a confraternização com os locais. Público muito bonito, pessoas simpáticas, logo estava conversando sobre fotografia com a Amanda, uma garota que tem bastante experiência fotografando bandas ali. Ela me deu dicas valiosas de posicionamento e do que eu poderia esperar quando o show começasse. Valeu! Fizemos nossa janta de sanduíches caseiros e coca-cola no meio da galera, conversando e nos reconhecendo.

"Que seja breve, mas intenso!"
(Noção de Nada - Um Segundo)

Cerca de 100 pessoas se aglomeraram num espaço onde cabiam 60, em frente ao palco, e muita brasa foi mandada naquele local. Eu me senti como o Tux fotografando os shows de hardcore sXe, levando empurrões, chutes, cotoveladas e pisadas no pé (sim, aquele pé que já estava naquelas condições). Mas estava felizão pela intensidade do momento. A galera de PoA estava fazendo o melhor show da tour até então. Uma aula no palco e fora dele. Microfone falhando, PA estourando, amplificadores que não aguentaram a pegada... mas a intensidade só cresceu, a cada música. Diferente do que acontece em outros lugares, em que os rapazotes costumam se aproveitar das meninas que se atrevem a dar stage dives, em PoA eu vi garotas LINDAS preocupadas ZERO com a maquiagem e o cabelo se enfiando na roda, se divertindo muito e cantando as musicas no ponting finger sinistro, sendo respeitadas por todos. Mais uma aula!

O Entre Bar tem um teto bem baixinho, mas pelo menos era branco! Tá certo, era um branco cheio de desenhos de ETs, duendes e Bob Marleys, mas o flash era rebatido e consegui algumas fotos que acredito traduzirem o que foi o show. Perto do final do show a Amanda me salvou mais uma vez, conseguindo pra mim um lugar em cima do palco pra eu variar um pouco o ângulo. Era bastante apertado. Tem uma foto que eu fiz do Sanfs nesse dia, um super close do rosto dele, que traduz bem a distância em que eu estava do cara. Não tem muito zoom, é aquilo ali mesmo. A dificuldade maior nesse dia foi fazer com que a lente não ficasse embaçada por mais de 20 segundos. Era praticamente impossível com todo aquele calor humano e suor no ar. Mas rolou.

Fotos do show em Porto Alegre; Entre Bar:
http://venancio.tumblr.com/post/515962402/zanderpoaum

Depois do show rolou mais uma cervejinha, confraternização com a galera local, flertes, sedução e decidimos que a noite seria no Cabaret do Beco. Nos disseram que ia rolar uma noite black. Passamos no hotel pra tomar banho (outro, dessa vez com água que não era suor) e decidimos ir a pé pra balada. Minha coluna mandava recados por intermédio do nervo ciático de que aquilo tinha sido uma má ideia. Os pés já não reclamavam mais, depois da verdadeira pantufa de algodão e esparadrapos que eu criei. Caminhamos por Porto Alegre na madrugada, o lugar me lembrava um pouco Buenos Aires. Comentei isso com o Sanfs, que morou 3 anos por lá, e ele me confirmou que realmente lembrava.

Chegamos no local 00:50, famintos (de novo). Mandamos um sanduíche imenso (tradição na cidade, todo lanche lá é imenso) e entramos no Beco. Estava bem vazio mas o som estava incrível. Algumas cervejas e vodcas foram suficientes pra soltar o esqueleto dos mais tímidos e logo estávamos mandando brasa na pista, dançando clássicos do real funk (e do carioca também). Conheci uma garota incrível com quem dividi algumas Heinekens. Há muito tempo eu não me divertia como naquela noite. Os que permaneceram solteiros voltaram juntos num taxi e nosso comentário era "uma noite braseira de verdade é aquela em que você não pega ninguém e mesmo assim se diverte muito". Não sei até que ponto isso era sincero da nossa parte ou era desculpa pra frustração sexual, mas foi assim. Acabamos na frente do hotel conversando sobre mulheres e relacionamentos, cada um contando seu caso. Essa conversa, aliada às Heinekens da noite, me fez gastar R$0,30 num SMS que eu achei que não mandaria tão cedo. Subimos e rolou uma nova divisão de quartos, porque alguns deles já estavam ocupados por, digamos, pessoas que não faziam parte da equipe original. Um pouco de internet até a adrenalina baixar e logo eu estava dormindo como se não houvesse amanhã.

A seguir: Canoas, Bárbaros Vikings e o show extra em Porto Alegre.

23 abril 2010

Maringá

Ou "deus da brasa pra quem não sabe mandar".

A van é dormitório, refeitório e sala de conferências, durante uma turnê como essa. A viagem de Cascavel para Maringá serviu para que colocássemos em dia as aventuras musicais/psicotrópicas/sexuais/alcoólicas e ríssemos muito. Cascavel deixou saudades e se tornou parada obrigatória de qualquer próxima turnê. Mesmo que seja no Leste Europeu. A essa altura o "Meu Rei" já tinha a pontuação muito afrente de nós todos.

"Não vamos controlar medos, impulsos e desejos."
(Deluxe Trio - Impulso)

Meu Rei é como chamamos o baterista Leonardo Mitchell, mais um baiano que faz parte desse balaio que é o Zander. Na verdade eu acho que ele é nascido no Rio, mas morou muitos anos em Salvador antes de voltar e se juntar ao Zander no Rio de Janeiro. Ele trás consigo essa aura zen, sempre muito tranquilo, mas a ferocidade da malandragem carioca logo fica evidente quando ele assume as baquetas e manda jazz, funk e hardcore misturado no groove. Pessoalmente, eu não vi ele perder uma sequer, sempre no beat. Fera!

Enfim, chegamos em Maringá e acionamos o Foston (GPS) pra encontrar o Pub Fiction. Não deu muito certo e apelamos pro método old school: perguntar pras pessoas onde ficava a tal Av. Rio Branco. Encontramos o local e em poucos instantes o cara que abria o bar apareceu também. Agora adivinhem como era o pico. Certo, luzes vermelhas e tudo pintado de preto. Lá vamos nós de novo... descarregamos os equipamentos e enquanto a galera do Falling for You passava o som, seguimos para a chácara do Chiquinho na cidade vizinha, Marialva. O clássico rango underground nos esperava: macarrão. Muito macarrão. Esse estava especialmente bom, com duas opções de molho e muita carne moída. Não sei se foi a mãe do Chiquinho que cozinhou pra gente, mas de qualquer forma, obrigado você que preparou esse macarrão! Eu estava faminto (situação que se repetiu com frequência). O Falling For You se juntou a nós e ao Amnesia e comemos como se não houvesse amanhã. A galera do digestivo encontrou o que queria enquanto eu me degladiava com uma porta de banheiro que insistia em permanecer aberta. É uma técnica ninja obrar segurando a porta, mas consegui. Na segunda etapa (aquela que envolve o papel higiênico) eu larguei o foda-se (e a porta aberta) e quem quisesse que fosse olhar. Saquei da mochila um pacote de lenços umidecidos íntimos e esse foi o meu banho nessa noite. Em seguida era hora de show no Pub Fiction, partimos de volta pra Maringá.

Chegamos bastante cedo, antes mesmo da casa abrir, e aos poucos um pessoal foi se aglomerando na entrada do bar. Isso significa que o pessoal já estava savatage, escolhendo vítimas em potencial. Entre elas, uma deusa acompanhada de um cara que levou 90 minutos pra lhe dar um selinho e obviamente estava querendo ser sua melhor amiga, não namorado. Realmente, deus dá brasa pra quem não sabe mandar. Me apaixonei 4x antes mesmo de o show começar, mas segurei minhas frases típicas mais sinceras (a saber: "te amo", "foge comigo" e "eu pago"). A primeira banda que tocou era local, não me recordo o nome. Depois o Falling For You deu seu recado e em seguida o Amnesia fez seu melhor show, finalizando com um cover do Sugar Kane que esquentou bem o público. A essa altura eu já tinha me apaixonado pela quinta vez, dessa vez de verdade, mas a guria mais linda do Pub Fiction me deixou a ver navios, obviamente. Eu devia ter soltado um "foge comigo" quando tive a chance.

Enfrentei alguns problemas técnicos nesse show. Pra começar, até então eu não havia tido a chance de recarregar pra valer as pilhas do flash, então o jogo que eu tinha durou 2 cliques e morreu. No escuro do Pub eu demorei quase 1 musica inteira pra achar outro set de pilhas carregadas dentro da mochila. A luz era tão precária que mesmo minha 50mm 1.8 com ISO alto não estava dando conta, mas no final tudo se resolveu. Geralmente a saída pra quando a luz vermelha está incomodando é setar a câmera pra PB e largar o flash direto. Isso resolve a maioria dos casos, mas testei também alguma coisa com baixa velocidade e movimento.

Fotos do show em Maringá; Pub Fiction:
http://venancio.tumblr.com/post/513452889/zandermaringa

"Paguei pra ver até onde vão me levar meus pés enquanto estão no ar"
(Deluxe Trio - Meus Pés Enquanto Estão No Ar)

O show acabou bastante tarde. Carregamos a van correndo, me despedi dando um beijo no rosto da guria que ficou com um pedaço do meu coração (te amo, foge comigo... eu pago!) e partimos pro aeroporto. Era hora de nos separarmos dos braseiros do Falling for You e Amnesia. Deixamos pra trás novos amigos, com a promessa de voltar sempre, e seguimos fazer o check in. Meu vôo era separado do resto da galera, uma hora mais tarde. Eu não estava pronto pra sentir o maior sono que já se apoderou de mim na vida. Mesmo o wifi do aeroporto não foi suficiente pra me manter ocupado. Pra piorar, eu havia deixado o cabo USB na mala maior, que foi com a banda no outro avião, e não tinha como descarregar as fotos dos shows passados. A manhã se arrastou e eu começava a delirar de sono quando meu vôo foi chamado. Dentro da aeronave eu apaguei e acordei em Campinas, no Aeroporto Internacional de Viracopos. Eu não entendia direito essa conexão, já que deveria estar indo pra Porto Alegre... mais uma hora sofrendo de sono no saguão e meu segundo vôo foi chamado. Mais uma vez, apaguei em instantes e acordei na capital gaúcha.

A seguir, Porto Alegre.

22 abril 2010

Cascaveletes

ou "Glup!"

Além de servir pra eu testar o equipamento, o show de Foz do Iguaçú serviu também para que eu me familiarizasse com o Zander ao vivo. Pra quem fotografa bandas é fundamental ter um certo tipo de entrosamento com os músicos. Esse entrosamento é unilateral, uma vez que você não deve interferir no show, mas precisa estar conectado com a banda para extrair as melhores imagens dos melhores momentos. Conforme os shows foram rolando eu fui pegando a manha e os trejeitos de cada um e, na minha opinião, as fotos melhoraram consideravelmente.

Terminado o show de Foz, ainda demos mais um tempinho no bar tomando as últimas cervejas e nos despedindo do pessoal local. A partir dali a viagem seria feita de van, junto com a galera das bandas Amnesia e Falling For You, de Maringá. Rapaziada nova e cheia de gás capitaneada pela grande fera Galo, que fez todo o corre por lá. Ao contrário do que se pode imaginar, a bagunça na van foi feita pelos velhos do Zander e sua equipe (eu e o Luan), enquanto os mais novos tentavam dormir e descansar. Foi mal aí, moçada!

"... vai dar bolha até seu dedo sangrar."
(Zander - Em Construção)

Chegamos em Cascavel lá pelas 5 da manhã de sexta-feira, dia 09 de abril, com muito frio e fome. Caminhamos pela madrugada atrás de algum podrão mas não encontramos nada aberto. Voltamos ao Hotel Príncipe e resolvemos esperar pelo café da manhã. Dividi um dos quartos com o Marcelão e o Bil e aproveitei o tempo de espera pra descarregar o material dos cartões no laptop. Às 6:30 o café da manhã foi servido. Comemos como se não houvesse amanhã e desmaiamos. Na estrada parece que nunca se dorme o suficiente e próximo ao meio-dia estávamos de pé mais uma vez para o almoço que a galera conseguiu pra nós. A caminhada de apenas 4 quadras do hotel até o Restaurante Cavagnollo foi o inferno pra mim. Minha bolhas estouraram e o tênis novo que comprei no Paraguai (75 reais num Vans Old School, lindo!) ainda estava se adaptando ao meu pé e me machucando. Foi osso. De volta ao hotel, comprei esparadrapo, algodão e band-aid pra fazer curativos nos pés e poder caminhar mais uma vez.

O problema agora era a minha passagem de Maringá para Porto Alegre. Como entrei de última hora na tour, ficou faltando esse trecho e os preços promocionais não existiam mais. Com a ajuda da rapaziada local, eu e o Luan encontramos uma agência de viagens onde a simpatissíssima Andréa resolveu meu problema por módicos R$420,00. Com a passagem em mãos, agora era só esperar pelo show de Cascavel, que seria no Lounge Bar. No começo da tarde fizemos check out no Hotel e fomos pra casa de um blóder onde dormiríamos após o show. A galera organizou um churrasco braseiro com muita cerveja e o esquenta pro show foi por ali mesmo. Esse foi o evento que me batizou como "Marrone" pro resto da trip. Munido de um violão que apareceu por lá, Marcelão começou a mandar clássicos do cancioneiro sertanejo e (quem me conhece, sabe) eu entrei de sola, cantando com ele. Bastante divertido, mas era hora de show no Lounge Bar e fomos pra lá.

"Sem provar alguma coisa que não seja de plástico..."
(Noção de Nada - Orgânico)

Chegando no local do show em Cascavel nós já pudemos confirmar a fama que a cidade tem de abrigar mulheres incrivelmente bonitas. O Lounge Bar fica numa esquina, cercado de baladas eletrônicas e sertanejas. Ao lado, o Bielle Club. O desfile que presenciávamos seguia essa linha aqui: http://www.bielle.com.br/fotos/?id=406. Com algum tempo sobrando antes do show começar, descarregamos o equipamento e fomos provar o chopp caseiro da Martignoni Beer. O local estava infestado com um público sub-16 que logo precisou ir embora e a dupla sertaneja tocava covers num som bastante ruim. O chopp era encorpadão, desceu bem. Devidamente abastecidos com a iguaria local, voltamos ao Lounge Bar e ficamos por lá, confraternizando com as locais enquanto Amnesia e Falling For You mandavam brasa.

Esse show de Cascavel foi uma experiência totalmente diferente do primeiro, pra mim. Se na maioria das casas o teto é pintado de preto, rebatendo 0% do meu flash, dessa vez eu tinha um teto verde disponível. Feião. Alguns clicks de teste e consegui um resultado satisfatório. A galera respondeu muito bem ao show e as fotos começaram a ficar com a cara que eu imaginava antes da turnê começar, mas eu ainda tinha um longo caminho pela frente até realizar o que tinha em mente.

Fotos do show em Cascavel; Lounge Bar:
http://venancio.tumblr.com/post/511742328/zandercascavel

Saímos do show e passamos um tempo curtindo a continuidade do desfile informal que é a saída do Bielle. Impressionante. Enfim, dividimos a galera nos carros da rapaziada local e voltamos pro QG onde estávamos hospedados. Descobrimos que a casa estava sem água, então esse foi o primeiro dia sem banho. Perrengues da estrada, mas o amor pela parada (aliado a algumas situações específicas que terei de manter em segredo pra garantir a integridade moral dos meus amigos) faz valer todo o rolê! Acordamos mais uma vez por volta do meio-dia e almoçamos no Restaurante Irani, um bom buffet self-service anexo a um supermercado. Por volta de 14:30 estávamos mais uma vez na van, rumo a Maringá.

(continua...)

EDIT: não posso deixar de mencionar que na manhã seguinte o Galo fez um corre frenético com o resto da galera de Cascavel e descolou banho pra todo mundo. Grande fera!

"Estive fora por alguns dias...

... e não é fácil estar aqui de pé."
(Deluxe Trio - Zelig)

Começou de brincadeira. Há alguns meses li um post do Bil no Facebook dizendo que o Zander estava agendando uma turnê pelo Sul. Deixei um comentário do tipo "vou entrar nessa van em Curitiba e só desço quando acabar!", mas não estava levando a sério essa hipótese. O tempo foi passando, a tour se aproximava e eu continuava com meus afazeres por aqui. Segui fotografando eventos na cidade, viajando com outras bandas nos finais de semana, me preparando pra semana de provas na faculdade, até que o Luan Lodi, da Lodi Produções (responsável pela agenda do Zander no Sul) me convidou para acompanhar a segunda etapa da turnê, que englobaria os shows de Santa Catarina, o de Curitiba e o de Paranaguá. Aceitei prontamente o convite e pra mim isso já seria uma honra e um prazer imensos.

Pra quem não está familiarizado com o underground, explico: o Zander é a nova banda do Bil (Gabriel Zander), um dos grandes ícones desse meio. Ele foi o fundador, principal letrista e frontman (mesmo quando era também baterista) do Noção de Nada, banda de grande importância pro hardcore nacional. O cara sempre foi um exemplo pra mim quando comecei a me envolver com esse som e de forma muito bacana acabamos trabalhando juntos quando ele aceitou o convite para produzir o segundo disco do Self Defense, em 2007. De lá pra cá meu respeito e admiração pelo trabalho do cara só cresceram e pude conhecer melhor também os outros caras da banda, por isso estava tão empolgado em participar dessa turnê. Ainda que fosse pela metade.

Minha surpresa veio num dia em que eu estava no QG da Lodi Produções discutindo um outro projeto, que envolvia o A-OK e outros shows. Surgiu a oportunidade de acompanhar a turnê completa, só precisávamos resolver alguns lances como passagem de avião e hospedagem pra mim nos hotéis em que a banda ficaria. Uma pessoa a mais não é um gasto assim tão grande para os contratantes dos shows. No caso das passagens de avião isso era um problema sério, pois os preços baixos costumam rolar só pra compras com antecedência, que era o caso do restante da banda.

"... e a gente vai queimar os pés no asfalto."
(Zander - Outro Dia Mais)

A turnê começou numa das cidades mais distantes da agenda, Foz do Iguaçú. De um dia pro outro as passagens de avião dobraram de preço e ficou resolvido que eu e o Luan viajaríamos de ônibus. Metade do preço, 10x o tempo de viagem. Partimos um dia antes do previsto, nas duas primeiras poltronas. Tem o janelão como vista e apoio para os pés (nós dois temos mais de 1,80m) e seríamos os primeiros a morrer, de forma rápida e indolor, no caso de uma colisão frontal. Foram 10 horas até Foz e menos de 10 minutos de sono. Não sei se foi minha coluna ou a ansiedade pelo que estava por vir, mas não consegui dormir a viagem inteira. Chegamos em Foz de manhã cedo e logo o Rafael Fraida (Assoalhos) apareceu pra nos buscar, acompanhado da fera Fernandão, um amigo dele de São Paulo. Passamos numa padaria pra tomar o café da manhã e seguimos pra casa do Rafa. Ainda era muito cedo e aproveitamos pra tomar um banho rápido e irmos pro Paraguai.

A casa do Rafa em Foz fica a duas quadras da fronteira, você consegue ver os prédios do outro lado da ponte. Fomos a pé. Foi minha primeira vez em Ciudad del Este e eu espero com todas as minhas forças que tenha sido a última (na verdade já houve uma segunda vez, no dia seguinte. Essa sim, a última). O lugar é caótico, pra dizer o mínimo. Perdi a conta de quantas vezes me foram oferecidos pen drives, meias, pó, lança-perfume, marijuana e tudo mais "que procuras, amigo". Os preços baixos empolgam, mas pra mim não compensam todo o stress. Minha coluna deu o tom do que seria o restante da viagem já ao atravessarmos a ponte, com o ciático pegando forte e me obrigando a fazer paradas estratégicas de 5 minutos pra poder continuar andando. Isso deve ter atrasado todos os programas que fizemos a pé e irritado um pouco o resto da galera. Foi mal. Não estávamos com o pessoal do Zander, que chegaria de avião à tarde vindos do Rio de Janeiro, onde eles moram.

Voltamos do Paraguai ainda antes do almoço e pra mim o dia já tinha durado umas 30 horas. Lembrando que eu estava com 10 horas de viagem nas costas, sem dormir. Depois do incrível almoço na casa dos Fraida não tive outra opção a não ser desmaiar. Meu desmaio durou cerca de 3hs. Quando acordei a banda já estava instalada no hotel. Matamos tempo na internet até chegar a hora de conhecer a night life de Foz do Iguaçú. Era o Dia Zero. O dia antes do primeiro dia. Show, só na noite seguinte. O pessoal queria bagunça. E tiveram.

"Não vá sem beber o último copo, pois talvez nunca mais virá aqui."
(Deluxe Trio - Mixtape)

Nossa primeira parada foi no Bar do Véio, na saída de uma Universidade que não lembro o nome. Um boteco de esquina com mesas na calçada e cerveja gelada a preço honesto. Embalados pelas histórias do Fernandão, começamos a beber e conhecer pessoalmente algumas figuras locais, como a Boca de Carpa (o peixe foi mudando pra lambari, tilápia e outros conforme a história foi sendo contada mais vezes). O primeiro cara da banda com quem encontrei foi o Marcelão, novo baixista que entrou no lugar do Guta, vindo diretamente de Salvador, Bahia. Ainda que ele desconte toda sua ferocidade no bigode que cultiva com orgulho e nas tijoladas que manda no palco, o "Senhor" é puramente um baiano típico. Tranquilíssimo, alto astral, sempre bem humorado. Figura única. Cansado da viagem e com resquícios de uma gripe mal curada, o outro Gabriel da banda, o Arbex (aka Sanfoneiro) decidiu ficar no hotel. Empolgado com a proximidade entre os países hermanos, o Bil tinha ido sozinho, de ônibus, conhecer a Argentina, na outra fronteira. O último Zander que faltava era o baterista Leo "Meu Rei", que nos encontrou mais tarde no Bar do Véio. Num determinado horário Bil e Sanfs também se juntaram a nós e começou a saga pelo segundo round daquela noite.

"... chegar no Roda Viva tu vai ser homenageado."
(Raimundos - Puteiro em João Pessoa)

A idéia era conhecer o point do verão de Foz do Iguaçú, um bar que também não lembro o nome. Passamos na frente (superlotados em 8 no carro do Rafa) e o lugar estava às moscas. Rodamos atrás de outras opções e acabamos em frente a um luminoso onde se lia "RODA VIVA". Um de nós foi escalado para checar a qualidade do recinto e voltou empolgado, dizendo "tá animal, vamos nessa!". Cinco cruzeiros por cabeça e ali estávamos, visitando "a casa das prima". Long story short, teve nego sonhando acordado com a paraguaia Dulce por uma semana.

Na manhã seguinte voltamos ao Paraguai. Dessa vez fomos sozinhos. Eu, Luan e o Zander, sem o Rafa como guia. Atravessamos a pé mais uma vez, após 2 minutos de conversa com um policial. O Luan, assim como eu, está sem documentos. A única coisa que tínhamos em mãos era a carteira de trabalho. De acordo com o Mercosul, os únicos documentos válidos para deixar o país são passaporte ou carteira de identidade. O engraçado é que isso só é válido se você atravessa pro Paraguai a pé. De carro ou moto você pode ser um assassino procurado pelo FBI que ninguém sequer vai pedir seus documentos. Da-lhe, Brasil! Uma vez do outro lado, era hora de criar bolhas IMENSAS nos pés, de tanto andar. Almoçamos num restaurante suspeitíssimo numa viela paraguaia e voltamos pro Brasil. É muito incrível a diferença num espaço físico tão pequeno. Assim que você atravessa a ponte de volta pra casa, até o ar fica mais leve. O calor dá uma trégua e caminhar é menos penoso.

À tarde alguns de nós resolveram descansar enquanto outro foram fazer turismo e conhecer as Cataratas do Iguaçú. Mesmo com os pés destruídos, fui junto. Não me arrependi nem um segundo. O lugar é impressionante e a vibração do momento foi especial. Resolvemos que vamos fazer tatuagens pra eternizar aquela vibe, só estamos resolvendo problemas de horário. Falta tempo. Enfim, se aproximava o momento do primeiro show da Tour Sul 2010 e parecia que estávamos juntos há vários dias.

"... e assim a gente vai, até o final. Até a parede mais próxima, pra nos fodermos ou derrubá-la."
(Zander - Outro Dia Mais)

O show de Foz foi numa quinta-feira. Sem feriado nem nada, numa cidade que não é exatamente conhecida pela cena independente, um pico afastado do centro marcado pra começar enquanto os jovens ainda estariam em aula. O que esperar? Bom, talvez a coisa mais importante dessa turnê foi a falta de expectativas. Conversava isso com o Sanfs no camarim do Molotov Rock Bar enquanto o pessoal do Amnesia, banda de Cascavel que nos acompanharia pelos 3 primeiros shows, passava o som. Eu não lembro de uma outra banda que tenha feito uma turnê assim no Brasil, com shows em praticamente todos os dias da semana, inclusive segunda-feira. E tudo bem, a banda estava lá pra mandar brasa, com público de 10 ou 1.000. A cerveja estava gelada e deu pra confraternizar com a galera local, trocar uma ideia e dar risadas. Pra mim foi um começo difícil porque a iluminação do palco era bastante precária. Isso se repetiu muitas vezes durante a turnê, talvez porque essas casas de rock alternativo tenham esse estigma assumido de ser um lugar escuro e "do mal". Então com frequência as únicas luzes são vermelhas e quase que invariavelmente o teto (e o chão e as paredes e tudo que se vê) é pintado de preto. Um pesadelo para fotógrafos, mas nada que não seja contornável. Foi ótimo pra eu testar meu equipamento novo, também. Pela primeira vez fotografei com uma câmera com grip, o que a deixa bem mais pesada, apesar de melhorar muito em termos ergonômicos.

Fotos do show em Foz do Iguaçu; Motolov Rock Bar:
http://venancio.tumblr.com/post/508787869/zanderfoz

No próximo post, a viagem pra Cascavel e aventuras pelo Norte / Oeste do Paraná.