19 maio 2010

"Feliz...

... Infeliz."
(Noção de Nada - Feliz)

Como integrante mais "local" da comitiva, me encarreguei de passar as instruções de saída pra Floripa ao Jean, motorista da van. Coloquei um DVD doidão do Tim Maia pra rodar e foi aquilo: uns aproveitando as 3hs de estrada pra descansar, dormir um pouco, outros conversando, todos peidando muito... ambiente típico de van.

Era óbvio que iríamos nos atrasar um pouco, mas uma coisa meio que nos tranquilizava a respeito do show em Florianópolis: SEMPRE é tarde. Tarde o suficiente pro público local achar que as bandas muitas vezes nem vão aparecer e ir embora. Depois de nos perdemos um pouco nos caminhos que levavam à Célula Cultural Mané Paulo, chegamos e conhecemos o organizador do esquema por lá. Realmente, ele nos informou que umas 30 pessoas já tinham ido embora. Eram quase 2:30 da manhã. Enquanto a van manobrava, mantive o seguinte diálogo de apresentação com o cara:

- Você é quem, fera?
- Venâncio, prazer!
- Ah, Venâncio... tu é o cara que baixou na minha namorada lá em Curitiba, né?
- ... hein?

Bela maneira de se começar uma amizade, mas foi tudo bem tranquilo. Desculpas daqui, "não-dá-nadas" dali, logo estávamos dividindo cervejas geladas. Descarregamos a van e lá encontrei o Gabi, conhecido meu de algum tempo, gente finíssima com quem já tive conversas filosóficas madrugada adentro enquanto nossas respectivas ex-namoradas fofocavam entre elas. Sempre aprendi muito nas conversas com ele, rolava um lance meio discípulo, porque o cara sempre estava muito avançado nas questões que pra mim ainda eram um mistério. Enfim, dessa vez o clima era diferente e trocamos só algumas palavras e uma cerveja.

"Me traz mais uma dose que eu prometo te beijar..."
(Noção de Nada - Bem Estar II)

Tive a oportunidade de finalmente conhecer pessoalmente uma amiga de internet com quem eu trocava algumas palavras de vez em quando. Por falar em oportunidades, parece que só eu me importo em aproveitar as que aparecem, quando estamos certos de que elas são muito raras. De qualquer forma, essa minha amiga mentiu que sabia qual era o meu perfume e está até hoje me devendo o nome. Tomamos umas cervejas antes de o Zander começar a montar o palco, conversamos um pouco e ela... desapareceu. Jóia.

A estrutura ali da Célula Cultural é bem bacana. Palco espaçoso, iluminação suficiente e honesta (nunca falou mal de ninguém) e som bom. Por culpa do horário avançado, da metade pra frente do show o técnico da casa cortou os graves e prejudicou um pouco o som no PA, mas claro que a brasa continuava sendo mandada, apesar de todos estarem um tanto cansados da viagem e show anteriores. O pessoal que resistiu ao horário estava ali realmente pra ver o Zander e não decepcionou, cantando alto as belas canções junto com a banda que entregava tudo que tinha restado de energia e coração na parada.

Fotos do show em Florianópolis; Célula Cultural Mané Paulo:
http://venancio.tumblr.com/post/532887441/zanderfloripa

Acabado o show, começava a saga do primeiro e único perrengue enfrentado na turnê. Olhando agora, foi bastante tranquilo e contornável, mas a situação na hora foi a seguinte: fomos todos comer num Space Food da vida, aqueles hot-dogs/espaçonaves gigantes que tem na rua, em Floripa. Toda a caravana Zander e um pessoal da produção local. Ok, comemos muito e ficou acertado que 3 dos nossos (Sanfs, Leo e Chero) iam dormir ali perto, no apê do cara da organização, e o resto iria pra casa de um amigo dele que estava junto.

"Faça-me o favor de ir se fuder!"
(Noção de Nada - Aspirina)

Deixamos os 3 ali e guiei a van até a saída de Floripa mais uma vez porque, segundo o figura, a casa dele ficava no continente, passando a ponte (pra quem ainda não entendeu, Florianópolis é uma ilha). Assim que a van estava no rumo, deitei no banco e capotei, esperando chegar na casa do cara. Só que não chegamos. Nunca. Cerca de 40 minutos depois, acordei com a voz do Luan ao telefone, falando não lembro com quem, dizendo coisas do tipo "o cara não sabe chegar na casa dele" e "estamos quase em Camboriú e o cara não sabe dizer onde é que vira". Dá pra acreditar? O pinta simplesmente NÃO SABIA ir pra casa! Solução: voltamos à casa do organizador, chamamos os que lá estavam pra nos resgatar e, após um surreal diálogo do pinta com o cara do show, onde o perdido propõs até que pegássemos mais uma vez a van e fôssemos seguindo um ônibus de linha até a casa dele (isso já era de manhã cedo) subimos em 10 pra dormir onde cabiam 3. Alguns foram pro chão, outros dividiram camas, cada um se arranjou como deu e enfim, dormimos.

Para ler a versão do Leo sobre esse fato, clique aqui.

Acordamos perto das 14:00, no dia seguinte. Todos se esticando, colocando os ossos e músculos no lugar, ajeitando as coisas pra partir. Tomamos banho e nos enrolamos não sei por qual motivo, mas sei que às 17:00 estávamos no Pizza Hut da Beira Mar, em Floripa, almoçando. Tínhamos mais estrada pela frente, rumo a Balneário Camboriú. Lá iríamos encontrar os feras do A-OK e do Square para uma sequência de shows juntos.

12 maio 2010

Eu levaria munição...

"... se fosse pra valer."
(Zander - Senso)

Saímos de Jaraguá do Sul com mais um integrante na van. Rudi "Roadie" é um amigo do China que precisava de uma carona pra Bal. Camboriú e embarcou com a gente disposto a dar uma mão no que precisasse. Mal sabia ele onde estava se metendo...

"Quem sabe a gente possa se encontrar pra falar de coisas bobas..."
(Deluxe Trio - Ou não?)

A viagem até Criciúma foi tranquila. Cerca de cinco horinhas na Brioi (BR-101) em obras. Eu estava mais do que acostumado, passou rápido. Na realidade o show seria em Içara, que é o município vizinho, próximo o suficiente pra agregar o público das duas cidades. Um pouco antes das 19:00 paramos num posto há duas quadras do Manga Rosa, onde seria o show, pro pessoal comer. Erro. Ir pra Criciúma (e região) e não comer um Xis é um erro tão grande que eu me recusei a comer os salgados requentados do posto. Todo mundo comeu, menos eu.

"Sempre o mais fácil; nunca perto de enfrentar."
(Zander - Do The Shindo)

Claro, essa foi minha desculpa pra não dizer que na minha garganta havia um nó tão grande que comida alguma passaria. Entendam, eu já sabia o que (não) ia acontecer. Mas era a primeira vez que eu voltava à região depois de vocês-sabem-o-quê e eu simplesmente não sabia como ia me sentir. Os lugares, as pessoas; é estranho quando o familiar se torna... estranho.

Às 19:07 chegamos no Manga Rosa e estacionamos a van. Operação-formiga pra levar todo o line pra cima por uma escada respeitável. O Manga Rosa é um pico na beira da estrada que liga Içara à Criciúma. É um galpão de dois andares e obviamente os shows rolam no piso superior. Lá dentro tem palco com um camarim e um bar. Telão passando videos de skate, palco simples mas com um espaço bacana, iluminação... tá, parei de reclamar da iluminação dos picos, juro! Enfim, tava rolando aquele clima Criciumense-hardcore-skate-surf-scream tão peculiar. Para o bem e para o mal, alguns rostos conhecidos. Ficamos por ali conversando e tomando umas cervejas enquanto o lugar ia enchendo. A primeira banda foi o Macaco Alado, bastante tradicional na área. Eu tinha uma lembrança mais "Dead Fish" deles. Mandaram uns covers de bandas clássicas e sons próprios. A seguir veio o Pause, banda do Gillian (que eu quase não reconheci sem dreads). É uma pegada DFC / Os Cabeloduro. O pessoal ia esquentando e lá por 21hs era hora do Zander tocar mais uma vez.

Alguém reclamou que eu não comento muito sobre a hora dos shows aqui no blog, mas entendam algumas coisas: 1) essas são as minhas impressões sobre a turnê. Para ler o tour report do Meu Rei, baterista, clique aqui. 2) eu vi 12 shows seguidos desses caras. Tirando uma diferença de equipo aqui e outra ali, não tenho muito de diferente pra falar sobre cada um. O que acontece é que esses quatro caras sobem no palco e MANDAM BRASA! Sempre! Toda vez! É high level do início ao fim! Vá ao show e veja com seus próprios olhos e ouvidos!

Eu disse que não reclamo mais da iluminação dos shows (que nesse caso era uma única luz de frente pro vocalista e a cor eu deixo pra vocês adivinharem). A verdade é que eu não tenho que reclamar MESMO. Os caras tocaram em um monte de picos com equipamentos precários e nem por um segundo deixaram de dar o melhor. Eu estava munido de um equipamento bastante razoável o tempo todo e minha obrigação era também dar meu melhor na hora de fazer os registros. Pode ser que eu nem sempre tenha conseguido, mas enfim... eu falo mais como um toque pra galera que monta rock clubs. Não pintem o teto de preto! Papel celofane tem o mesmo preço independente da cor, comprem outro que não seja vermelho! Economize na máquina de fumaça e não compre uma! É bastante simples! Fica aqui o meu apelo.

(PS: trabalhei no Moinho Eventos esses dias, PUTA iluminação profissa no palco e adivinhem: o técnico de luz NÃO DESLIGOU o vermelho DA FRENTE nem por UM SEGUNDO. Adiantou NADA!)

Fotos do show em Criciúma; Manga Rosa:
http://venancio.tumblr.com/post/532788079/zandericara

"Vamos fugir do Sol e ver quem vai nos alcançar?"
(Deluxe Trio - Impulso)

O show terminou por volta das 22:00 e acionamos novamente a operação conjunta pra desmontar equipo e carregar a van em tempo recorde. Às 22:25 nós estávamos saindo de Içara. Tanta pressa se justifica: tínhamos outro show no mesmo dia, em Florianópolis. Uma viagem de no mínimo 3 horas. Façam as contas. Uma pena, não pudemos ficar por lá e confraternizar direito com o pessoal. Bom, eu não posso dizer que estava triste por deixar logo o local, mas também não estava feliz.

01 maio 2010

"Mais estradas...

... menos lar."
(Deluxe Trio - Mais Uma Tarde Na Estrada, Sem Você)

Sexta-feira, 16 de abril de 2010. Acordei um pouco antes do meio dia pra arrumar a mala e conferir meu equipamento. Roupas limpas, baterias carregadas, sono quase em dia. Estava pronto e ansioso pra segunda etapa da turnê. A partir de agora viajaríamos com uma van alugada, levando backline de baixo e guitarra na carreta e com a companhia do Marcos “Chero”, tatuador e piercer aqui de Curitiba que mora com o Luan e faria esse corre com a gente como roadie.

Minha casa fica no caminho pra BR 101, então encontrei com os caras num posto de gasolina aqui perto. Entrei na van e estava rolando um DVD do Rage Against the Machine. Os próximos seriam os que eu levei. Pearl Jam, Slayer, Metallica e nessa pegada chegamos em Jaraguá do Sul por volta das 15:30. O Foston nos deixou na mão de novo, então paramos num posto e acionamos o China, organizador do evento na cidade e grande fera. Em instantes ele pintou por lá com alguns blóders pra nos salvar e guiar até o local do show.

Nós já sabíamos que o show tinha mudado de local por questões de alvará, mas não fazíamos ideia do que nos esperava. Chegando ao London Pub, por volta das 16:15, pra conhecer a casa, descarregar o backline e passar o som, nos surpreendemos. Pelo que nos foi passado, é a casa mais boy da cidade. Parece ser, mesmo. Era a primeira vez que o local receberia uma banda de hardcore. Teríamos o público do Zander, que havia comprado ingresso antecipado, mas o grosso da galera seria o público normal da casa. Interessante. Durante a passagem de som, o DJ residente se mostrou unbrazer total, soltando com desdém frases do tipo “eu vou estar com o decibelímetro ligado e, se passar, eu vou cortar” ou “banda de rock geralmente quer extrapolar no volume” e “nossa casa está situada num bairro nobre, então não pode exagerar”. Eu ouvia isso imaginando o Sanfs, todo sério, aumentando o Mesa Boogie no talo e pensando “foda-se, não vai ser esse cara que vai impedir a brasa de ser mandada!”.

Mais uma vez estávamos famintos, então o China nos levou até a Pizzaria Napolitana, que descontava a falta de criatividade do nome no cardápio bastante variado. Ainda assim, pecando pelo excesso de comodismo e falta de brasa, os caras pediram as pizzas mais padrão do universo (calabresa e 4 queijos??? Tá de brincadeira!) e mais uma estupidez completa vegetariana / brócolis. Eu e o Marcelão olhávamos pro cardápio com pizzas de coração, camarão, bacon (também conhecido como "vida" ou "Deus") e demais tentativas de delícia e não conseguíamos nos conformar com aquilo. Como dizem, a fome é o melhor tempero, então tudo bem. Da pizzaria seguimos pra casa do China, onde fomos muito bem recebidos pela mãe do cara. Ali tomamos banho e nos arrumamos pro show, munidos de novas camisetas fornecidas gentilmente pela Eighteen, marca que o China representa. O cara ainda conseguiu a extensão que precisávamos pra ligar os amps nos transformadores (tínhamos amplis 110 pra uma tour em SC, onde tudo é 220), correria total! Perto das 22:30, partimos. Era hora de show no London Pub.

"Hoje eu vim vender minha carne. Vai levar ou não?"
(Deluxe Trio - Abate)

Como o show seria num horário de balada, aproveitamos pra ficar ali na área externa, que conta com mesas e um bar braseiro, conferindo a flora e fauna locais que ia entrando aos poucos. O China mal podia conter sua alegria com a fila enorme e a casa enchendo, dava gosto ver o guri correndo de um lado pro outro. Agora duas coisas precisam ser ditas sobre Jaraguá do Sul e o London Pub: 1) rivalizou com Cascavel no quesito mulher bonita. A seu favor, o fato de que as mulheres estavam no local do show, não na balada ao lado. 2) O London Pub tem talvez o melhor chopp Heineken que já tomei na vida. Cremoso como poucos, muito bem tirado. Tomei seis ainda antes do show começar.

No intervalo entre as bandas de abertura o "DJ Unbrazer" soltava música eletrônica, hip hops gringos genéricos e as top 10 de qualquer rádio, fazendo a galera dançar. Na real a galera dançava do mesmo jeito com as bandas de rock tocando, era engraçado. O clima estava ótimo, o público era bonito e tinha também a galera do róque pra garantir o circle pit. Conhecemos o figuraça Bananeira, um tiozão roqueiro que é lenda na região por plantar bananeiras durante os shows de rock. Com toda a humildade e simpatia, o cara veio até a mesa pedir permissão ao Zander pra curtir o show "de cabeça pra baixo". Fera!

Apesar de ser uma casa top, as condições de luz não eram exatamente as que a gente encontra pra fotografar no Master Hall ou no Moinho (ou é Hellooch? Sei lá, muda sempre), por exemplo. O teto era muito alto, então eu poderia esquecer qualquer rebatimento de flash vindo de cima. De qualquer forma, raramente as condições são ideiais e quem fotografa show sabe que cada um é um desafio diferente e poucas regras e fórmulas servem pra tudo. O Zander mandava sua brasa habitual enquanto eu ia me adaptando às novas condições. Pelo menos a típica luz vermelha não estava presente. No lugar dela, as maravilhosas luzes azuis, roxas e brancas. Sensacional!

Fotos do show em Jaraguá do Sul; London Pub:
http://venancio.tumblr.com/post/532779240/zanderjaragua

Fim de show, som de balada, uma banda cover ainda se apresentaria... resolvemos ficar por ali mais um tempo, curtindo o pós. Camisetas trocadas, desodorante repassado, mais chopps e caipirinhas (a de vinho outro cara tomou no meu lugar, infelizmente), o clima estava propício pra azaração e Curtição dos Jovens. A confraternização com a galera local é uma das partes mais bacanas durante as turnês. Conhecer novos lugares, novas pessoas, novíssimas experiências. Muito legal, mesmo. Teve até um acidente automobilístico envolvido e depois disso eu estava dirigindo um Peugeot automático pelas ruas de Jaraguá, aparentemente sem destino. Quatro errantes. Loucura. Nos escondendo nas sombras. Que loucura... Depois ainda conhecemos o Oca, uma das maiores feras locais e dono do Bar do Oca (não diga), onde era pra ter rolado o show. Local totalmente roots e tradicional, onde a galera destruiu quilos de costela com maionese de batata e demais guloseimas madrugada adentro. Horas depois estávamos mais uma vez na residência do China, desmaiando em colchões e camas que o cara foi buscar não sei onde pra nos abrigar. Tô dizendo, o cara é correria master.

Acordei com o chamado pro almoço. Tomei um banho e encontrei o pessoal nos fundos da casa do China, onde mais uma vez a mãe do cara pecou pelo excesso de hospitalidade e nos preparou um BAITA rango braseiro. Chinemo, agradeça sua mãe forever. A todos os teus blóders e a você também, sem palavras. Foi tudo do caralho!

"E não é por medo, e nem nunca foi..."
(Noção de Nada - Planos à esquerda)

Colei com o Chero no mercadinho da esquina e abastecemos o cooler com mais cerveja. Tínhamos mais algumas horas de estrada pela frente, até Criciúma, local do próximo show. Um turbilhão de emoções diferentes começava a se formar dentro de mim. Eu não sabia dizer se me importava com isso. Eu realmente não sabia o que esperar. Pouco antes de sairmos, passei no banheiro e deixei tudo isso por lá. Era só um torcicolo intestinal, afinal de contas.

A seguir: Criciúma / Floripa e os primeiros perrengues.