15 setembro 2010

Combo (Me)³nsal atrasado!

Claro que eu deixo tudo inacabado, sempre foi assim. Burlando as regras do #MEME e aproveitando que ninguém está nem aí mesmo, vou fazer um post que vale por cinco.

Dia 19 – Um talento seu
Me foder. Mentira.

Um talento que descobri cedo foi a música. Antes mesmo de entrar nas aulas de piano do colégio eu já tocava em casa, de ouvido, aprendendo ao observar meu pai tocar. Hoje não toco mais, então o talento que ando utilizando por aí talvez seja o da fotografia. Comecei com as antigas câmeras de filme, fiz os primeiros cursos com ela e a entrada no digital foi um passo natural pra mim. Hoje consigo aliar esse talento / hobby à minha profissão, fotógrafo, e isso é algo que me orgulha. Os links pro meu trabalho, caso alguém ainda não conheça, estão aí ao lado.

Dia 20 – Um hobby
A fotografia deixou de ser meu principal hobby porque é minha profissão. Fazer música anda muito pouco frequente para ser caracterizada um hobby. Acho que hoje em dia meu hobby é mesmo a internet. Baixar músicas, navegar por sites de assuntos diversos, descobrir coisas... vivo por aí, nas horas vagas.

Dia 21 – Uma receita
Retire a comida pronta do freezer, insira no microondas seguindo as instruções do rótulo e pronto.

Dia 22 – Um site
O princípio, o meio e o fim.
Alfa e ômega: http://www.google.com

Dia 23 – Um vídeo do YouTube

02 setembro 2010

(Me)³nsal - Dia 18. Um poema

E. E. Cummings - Somewhere I have never travelled, gladly beyond

Somewhere I have never travelled, gladly beyond
any experience, your eyes have their silence:
in your most frail gesture are things which enclose me,
or which i cannot touch because they are too near

Your slightest look easily will unclose me
though i have closed myself as fingers,
you open always petal by petal myself as Spring opens
(touching skilfully, mysteriously) her first rose

Or if your wish be to close me, I and
my life will shut very beautifully, suddenly,
as when the heart of this flower imagines
the snow carefully everywhere descending;

Nothing which we are to perceive in this world equals
the power of your intense fragility: whose texture
compels me with the color of its countries,
rendering death and forever with each breathing

(I do not know what it is about you that closes
and opens; only something in me understands
the voice of your eyes is deeper than all roses)
nobody, not even the rain, has such small hands
Esse é o poema do Cummings que o Zeca Baleiro traduziu e musicou, com o nome de "Nalgum lugar". Para ler a tradução é só ouvir a música. Postei em inglês porque acho que poemas perdem muito na tradução, mesmo quando ela é bem feita. Algumas nuances se perdem fora das características e peculiaridades do idioma original.

01 setembro 2010

(Me)³nsal - Dia 17. Uma obra de arte


Claude Monet - Mulher com sombrinha (1875). Porque foi ele quem tirou os pintores do estúdio / ateliê e botou na rua, pra pintar in loco. E porque o impressionismo é de longe o movimento mais bacana da história da pintura.

30 agosto 2010

(Me)³nsal - Dia 16. Uma musica que faz você chorar (ou quase)

http://www.youtube.com/watch?v=ZSh-lojeVqo&ob=av3n
A incorporação foi desativada, então clique no link pra assistir direto no YouTube.

Talvez fosse mais fácil falar sobre uma música que não me faça chorar. A lista é grande e eclética, mas a vencedora, hoje, é essa:

KT Tunstall - Throw Me A Rope

I want you between me and the feeling I get when I miss you
But everything here is telling me I should be fine
So why is it so, above as below,
That I'm missing you every time

I got used to you whispering things to me into the evening
We followed the sun and its colours and left this world
It seems to me that I'm definitely
Hearing the best that I've heard

So throw me a rope to hold me in place
Show me a clock for counting my days down
Cause everything's easier when you're beside me
Come back and find me
Cause I feel alone

And whenever you go it's like holding my breath underwater
I have to admit that I kind of like it when I do
Oh but I've got to be unconditionally
Unafraid of my days without you

So throw me a rope to hold me in place
Show me a clock for counting my days down
Cause everything's easier when you're beside me
Come back and find me
Whenever I'm falling you're always behind me
Come back and find me
Cause everything's easier when you're beside me
Come back and find me
Cause I feel alone

28 agosto 2010

(Me)³nsal - Dia 15. Uma fotomontagem


Para fotomontagem do MEME Mensal eu escolhi um trabalho do fotógrafo e artista plástico inglês David Hockney. Acho incrível a forma como ele desconstrói as figuras através das colagens. Procurem mais trabalhos dele na internet, vale a pena.

27 agosto 2010

Me³nsal - Dia 14. Um livro não-ficcional


Trilogia suja de Havana (Pedro Juan Gutiérrez) - O cotidiano de Cuba mostrado de forma visceral, crua e de grande impacto. Não tenho certeza até que ponto os contos desse livro são realmente auto-biográficos, mas com certeza tudo que Pedro Juan narra sobre a ilha de Fidel nesse livro é bastante verossímil. "Se non è vero, è ben trovato", dizem os italianos.

Outro livro não ficcional que gosto muito é "Feliz Ano Velho", do Marcelo Rubens Paiva. Recomendo ambos.

25 agosto 2010

Me³nsal - Dia 13. Um livro de ficção


O Vendedor de Armas (Hugh Laurie) - Eu nunca assisti a um capítulo completo de House, mas foi a falação em torno do personagem de Hugh Laurie que me fez comprar o livro. Não posso comparar com a série, mas no livro o autor demonstra humor ácido e sarcasmo afiadíssimo, além de ambientar com segurança toda a interessante trama de assassinato encomendado. Recomendo!


24 agosto 2010

Me³nsal - Dia 12. Um conto

Gosto muito do conto / capítulo "Solitário. Resistindo.", que está no livro Trilogia Suja de Havana, do Pedro Juan Gutiérrez. Um trecho:

(…) Agora sim, fiquei sozinho. O ar ao meu redor estava mais leve. Não era fácil aceitar a solidão. Nem aprender a me auto-abastecer. Eu continuava pensando que seria impossível. Ou desumano. “O homem é um ser social”, tinham me repetido muitas vezes. Isso, mais o calor do trópico, o sangue latino, minha mestiçagem fabulosa, tudo conspirava em torno de mim, como uma rede, deixando-me incapacitado para a solidão. Esse era o meu problema, o meu desafio: aprender a viver e a desfrutar dentro de mim. E o problema não é simples: os hindus, os chineses, os japoneses, todos os povos que têm culturas milenares dedicaram boa parte do seu tempo a desenvolver filosofias e técnicas de vida interior. Mesmo assim, todo ano se suicidam no mundo não sei quantos milhares de pessoas, arrasadas pela própria solidão. E não é verdade que alguém escolha estar sozinho. É que, pouco a pouco, vai ficando sozinho. E não tem saída. É preciso resistir. Você chega a uma imensa planície desértica e não sabe que merda fazer. Muitas vezes pensa que o melhor é fugir. Para outro país, outra cidade, outro lugar. Mas continua amarrado. Outras vezes acha que é melhor não pensar muito em si mesmo e na puta solidão, que fica ainda mais aguda quando você está isolado e em silêncio. Bom, então é preciso se mexer. E você sai por aí. À procura de um amigo, ou de uma mulher que lhe dê um pouco de sexo. Não sei. Alguém para não ficar sozinho, porque você já sabe que quando fica assim o rum e a maconha deprimem ainda mais. Um pouco de sexo, talvez. Se não, pelo menos um amigo. (…)

22 agosto 2010

Me³nsal - Dia 11. Uma foto sua recente


Gosto da foto e gosto de quem tirou. (Clique na imagem que ela aparece numa qualidade melhor e em tamanho maior)

20 agosto 2010

Me³nsal - Dia 10. Uma foto de você há mais de dez anos


Bem mais de 10 anos atrás...

Me³nsal - Dia 09. Uma foto que você tirou

Mais amor...

Bom, pra quem ainda não sabe, fotografar é o que eu faço da vida. Minha profissão e também meu hobbie. Ainda assim, a foto que escolhi pra ilustrar o post e participar do MEME foi tirada com meu celular. Foi próximo à casa do Cesinha, em São Paulo. A arte é do Ygor Marotta.

16 agosto 2010

Me³nsal - Dia 06. Uma experiência inesquecível

Fiquei em dúvida entre duas situações. Quase escrevi sobre ambas, mas como o título do meme pede uma só, escolhi "estar no palco".

Para aqueles que ainda não sabem, sou vocalista de uma banda de hardcore chamada Self Defense. Faz 9 anos desde que fizemos os primeiros ensaios e gravamos a primeira demotape. Claro que nos últimos 3 ou 4 anos a gente praticamente não tocou por aí, mas essa é uma característica das experiências inesquecíveis: às vezes elas só acontecem uma vez e é o suficiente. Igual viver.

Estar no palco à frente de uma banda de hardcore independente tem muito pouco a ver com egocentrismo ou vaidade. Mesmo o termo "à frente" não é acurado. Não é questão de liderança. Estar no palco não é estar acima da platéia. A experiência que pra mim se tornou inesquecível tem mais a ver com união, entrega e catarse. Poder se fazer ouvir e compartilhar ideias e ideais com tamanha intensidade, estar livre de códigos de conduta e vestuário - ainda que tenhamos criado os nossos próprios no decorrer do percurso - e aprender ao mesmo tempo em que defende suas verdades, aquelas nas quais você realmente acredita.

"Estar no palco" no meio hardcore é uma experiência inesquecível e especial pra mim porque cada vez em que aconteceu, foi satisfatória. Aprendi muito, conheci lugares e pessoas incríveis - e alguns idiotas também - e mesmo quando o show é ruim, estar no palco é melhor do que a alternativa. É uma forma intensa de descarregar frustrações com energia positiva.


15 agosto 2010

14 agosto 2010

Me³nsal - Dia 04. Seu livro favorito


Extremamente Alto & Incrivelmente Perto - Jonathan Safran Foer (Rocco, 360 páginas) é o meu livro favorito. Acho. A trilogia "As Crônicas de Arthur", do Bernard Corwell, está muito próxima do posto de livro favorito mas, ainda que eu seja muito fã de romances históricos, Safran Foer é irresistível. A escrita dele, melhor dizendo.

Quem me apresentou o autor foi minha amiga Daisy, a mãe do Francisco. Um dia ela me enviou um .doc com trechos de vários livros e autores. Entre eles, se não me engano, estava o Safran Foer com a poderosa passagem "Sometimes I can hear my bones straining under the weight of all the lives I'm not living", ou "Às vezes posso ouvir meus ossos se quebrando sob o peso de todas as vidas que não estou vivendo", em tradução livre. Claro, fui atrás de outras citações do autor e fiquei chocado. Mais do que isso, fiquei curioso em descobrir como essas frases soltas tão incríveis e que funcionam tão bem sozinhas se encaixavam em meio à uma narrativa completa, dentro de um contexto maior. Outra vez, me surpreendi.

O livro em questão conta a história do garoto Oskar Shell, de 9 anos. Absurdamente criativo, ele tenta lidar com uma perda drástica, devida ao 11 de Setembro. Ao encontrar uma chave nos pertences do pai, Oskar passa a se aventurar pela cidade em busca da fechadura. Diferentes recursos gráficos são usados durante o livro. Mesmo páginas em branco fazem parte da narrativa, que conta uma história paralela acontecida 50 anos atrás e que tem uma relação, mais tarde desvendada, com a busca de Oskar. É incrível a maneira com que Safran Foer conduz a história e torna tão verossímil um garoto de 9 anos ter atitudes e discursos tão fantásticos, lidando com emoções tão fortes quanto a perda e outros sentimentos tão complexos mesmo para um adulto.

Teria mais a dizer sobre o livro, mas estou tentando manter os posts curtos pra que a leitura não se torne cansativa e para que talvez uns comentários apareçam por aqui.

13 agosto 2010

Me³nsal - Dia 03. Seu programa de televisão favorito



Uma Família da Pesada (Family Guy) é meu programa de televisão favorito. Menção honrosa aos Simpsons, que pra mim são tão bons quanto, mas Family Guy foi alguns passos além usando basicamente a mesma fórmula.

Eu não tenho TV a cabo em casa e há quase 1 ano não tenho TV no meu quarto. Minha experiência com televisão, já há algum tempo, é via YouTube. Os seriados eu baixo em torrent ou empresto os DVDs de amigos. Ainda assim, meu primeiro encontro com Family Guy foi pela Globo, que passa uns episódios de vez em quando, no final da madrugada. Sexo, drogas, religião e demais assuntos polêmicos são tratados com humor negro ímpar, ritmo e timming perfeitos, sem pudor algum e com extrema inteligência.

Pelo YouTube, acompanho também CQC, A Liga, algumas coisas do Programa do Jô e os programas todos do Marcelo Adnet na MTV. Ainda através da internet, gosto de algumas coisas do NatGeo e recomendo a série "Inimigos da Razão" do Richard Dawkings.

De qualquer forma, Family Guy é um programa que, se alguém me presentear com os boxes de todas as temporadas, eu prometo assitir todos os dias da minha vida.

12 agosto 2010

Me³nsal - Dia 02. Seu filme preferido


Coração Valente (Braveheart, EUA, 1995) - ao lado de Bloodsport (O Grande Dragão Branco), é o filme que mais assisti na vida. Do tipo saber todas as falas de cor, de todas as personagens, ir falando junto conforme o filme vai passando, ou falando antes, bem chato. Tenho um VHS começando a embolorar que eu não sei como ainda funciona, com esse filme gravado. Esse ano finalmente comprei em DVD e já assisti umas três vezes.

Oscars de melhor filme, direção, fotografia, maquiagem e efeitos sonoros. Um dos primeiros filmes a usar computação gráfica pra multiplicar exércitos em cena. Atuações sólidas, ambientação histórica honesta (com algumas partes romanceadas, mas ei... é cinema, não História), ação, romance e humor na medida certa e Mel Gibson mostrando seu estilo de direção violento que ia culminar em todo aquele sangue no filme do Jesus, anos depois.

A história de William Wallace, herói escocês que iniciou o processo de independência do seu país contra a Inglaterra, é até hoje um marco da sétima arte. A luta pela liberdade deflagrada pelo desejo de vingança pessoal. Espetacular. Um dos melhores filmes épicos de todos os tempos e o meu preferido até hoje.

11 agosto 2010

Me³nsal - Dia 01. Sua música favorita


A banda, o disco e a música que me fizeram ter vontade de montar a minha própria banda. Em 1994, acontecia com os fãs de Green Day algo parecido com o que acontece com os fãs de bandas "emo" (com todas as aspas do mundo, usando o termo de forma genérica como a imprensa desinformada padronizou e tornou senso comum) ou fãs do Restart e Cine: eram vítimas de preconceito. Diziam que a banda era uma moda passageira, que não eram bons músicos, que as canções não tinham qualidade.

A diferença crucial é a seguinte: o Green Day provou com méritos sua qualidade musical e se transformou em uma das maiores e mais importantes bandas de rock da atualidade, se reinventando a cada novo disco com dignidade, identidade e atitude, coisa que jamais acontecerá com os coloridos.

Basket Case, do álbum Dookie (1994), tocou até dizer chega nas rádios do mundo inteiro, foi modinha entre roqueiros, playboys e demais tribos, quase enjoou... mas é responsável pelo renascimento do punk rock (ainda que numa versão bubblegum) e trouxe de novo as guitarras pro mainstream após o vácuo deixado por Kurt Cobain e o Nirvana.

10 agosto 2010

Me³nsal*

Acabei de ver no blog da Fer o Meme Mensal e me interessei.
Vou postar o roteiro, amanhã eu começo!

Dia 01 – Sua música favorita
Dia 02 – Seu filme preferido
Dia 03 – Seu programa de televisão favorito
Dia 04 – Seu livro favorito
Dia 05 – Uma citação de alguém
Dia 06 – Uma experiência inesquecível
Dia 07 – Uma foto que te faz feliz
Dia 08 – Uma foto que te deixa irritado / triste
Dia 09 – Uma foto que você tirou
Dia 10 – Uma foto de você há mais de dez anos
Dia 11 – Uma foto sua recente
Dia 12 – Um conto
Dia 13 – Um livro de ficção
Dia 14 – Um livro não-ficcional
Dia 15 – Uma fotomontagem
Dia 16 – Uma musica que faz você chorar (ou quase)
Dia 17 – Uma obra de arte (pintura, desenho, escultura, etc)
Dia 18 – Um poema
Dia 19 – Um talento seu
Dia 20 – Um hobby
Dia 21 – Uma receita
Dia 22 – Um site
Dia 23 – Um vídeo do YouTube
Dia 24 – Seu lugar preferido
Dia 25 – O seu dia, em grande detalhe
Dia 26 – Sua semana, em grande detalhe
Dia 27 – Este mês, em grande detalhe
Dia 28 – Este ano, em grande detalhe
Dia 29 – O que você espera, os sonhos e planos para os próximos 365 dias
Dia 30 – O que você quiser
Dia 31 – O Bônus ou O Fim

*Pra quem não entendeu, Me³nsal = MEME MEnsal

19 maio 2010

"Feliz...

... Infeliz."
(Noção de Nada - Feliz)

Como integrante mais "local" da comitiva, me encarreguei de passar as instruções de saída pra Floripa ao Jean, motorista da van. Coloquei um DVD doidão do Tim Maia pra rodar e foi aquilo: uns aproveitando as 3hs de estrada pra descansar, dormir um pouco, outros conversando, todos peidando muito... ambiente típico de van.

Era óbvio que iríamos nos atrasar um pouco, mas uma coisa meio que nos tranquilizava a respeito do show em Florianópolis: SEMPRE é tarde. Tarde o suficiente pro público local achar que as bandas muitas vezes nem vão aparecer e ir embora. Depois de nos perdemos um pouco nos caminhos que levavam à Célula Cultural Mané Paulo, chegamos e conhecemos o organizador do esquema por lá. Realmente, ele nos informou que umas 30 pessoas já tinham ido embora. Eram quase 2:30 da manhã. Enquanto a van manobrava, mantive o seguinte diálogo de apresentação com o cara:

- Você é quem, fera?
- Venâncio, prazer!
- Ah, Venâncio... tu é o cara que baixou na minha namorada lá em Curitiba, né?
- ... hein?

Bela maneira de se começar uma amizade, mas foi tudo bem tranquilo. Desculpas daqui, "não-dá-nadas" dali, logo estávamos dividindo cervejas geladas. Descarregamos a van e lá encontrei o Gabi, conhecido meu de algum tempo, gente finíssima com quem já tive conversas filosóficas madrugada adentro enquanto nossas respectivas ex-namoradas fofocavam entre elas. Sempre aprendi muito nas conversas com ele, rolava um lance meio discípulo, porque o cara sempre estava muito avançado nas questões que pra mim ainda eram um mistério. Enfim, dessa vez o clima era diferente e trocamos só algumas palavras e uma cerveja.

"Me traz mais uma dose que eu prometo te beijar..."
(Noção de Nada - Bem Estar II)

Tive a oportunidade de finalmente conhecer pessoalmente uma amiga de internet com quem eu trocava algumas palavras de vez em quando. Por falar em oportunidades, parece que só eu me importo em aproveitar as que aparecem, quando estamos certos de que elas são muito raras. De qualquer forma, essa minha amiga mentiu que sabia qual era o meu perfume e está até hoje me devendo o nome. Tomamos umas cervejas antes de o Zander começar a montar o palco, conversamos um pouco e ela... desapareceu. Jóia.

A estrutura ali da Célula Cultural é bem bacana. Palco espaçoso, iluminação suficiente e honesta (nunca falou mal de ninguém) e som bom. Por culpa do horário avançado, da metade pra frente do show o técnico da casa cortou os graves e prejudicou um pouco o som no PA, mas claro que a brasa continuava sendo mandada, apesar de todos estarem um tanto cansados da viagem e show anteriores. O pessoal que resistiu ao horário estava ali realmente pra ver o Zander e não decepcionou, cantando alto as belas canções junto com a banda que entregava tudo que tinha restado de energia e coração na parada.

Fotos do show em Florianópolis; Célula Cultural Mané Paulo:
http://venancio.tumblr.com/post/532887441/zanderfloripa

Acabado o show, começava a saga do primeiro e único perrengue enfrentado na turnê. Olhando agora, foi bastante tranquilo e contornável, mas a situação na hora foi a seguinte: fomos todos comer num Space Food da vida, aqueles hot-dogs/espaçonaves gigantes que tem na rua, em Floripa. Toda a caravana Zander e um pessoal da produção local. Ok, comemos muito e ficou acertado que 3 dos nossos (Sanfs, Leo e Chero) iam dormir ali perto, no apê do cara da organização, e o resto iria pra casa de um amigo dele que estava junto.

"Faça-me o favor de ir se fuder!"
(Noção de Nada - Aspirina)

Deixamos os 3 ali e guiei a van até a saída de Floripa mais uma vez porque, segundo o figura, a casa dele ficava no continente, passando a ponte (pra quem ainda não entendeu, Florianópolis é uma ilha). Assim que a van estava no rumo, deitei no banco e capotei, esperando chegar na casa do cara. Só que não chegamos. Nunca. Cerca de 40 minutos depois, acordei com a voz do Luan ao telefone, falando não lembro com quem, dizendo coisas do tipo "o cara não sabe chegar na casa dele" e "estamos quase em Camboriú e o cara não sabe dizer onde é que vira". Dá pra acreditar? O pinta simplesmente NÃO SABIA ir pra casa! Solução: voltamos à casa do organizador, chamamos os que lá estavam pra nos resgatar e, após um surreal diálogo do pinta com o cara do show, onde o perdido propõs até que pegássemos mais uma vez a van e fôssemos seguindo um ônibus de linha até a casa dele (isso já era de manhã cedo) subimos em 10 pra dormir onde cabiam 3. Alguns foram pro chão, outros dividiram camas, cada um se arranjou como deu e enfim, dormimos.

Para ler a versão do Leo sobre esse fato, clique aqui.

Acordamos perto das 14:00, no dia seguinte. Todos se esticando, colocando os ossos e músculos no lugar, ajeitando as coisas pra partir. Tomamos banho e nos enrolamos não sei por qual motivo, mas sei que às 17:00 estávamos no Pizza Hut da Beira Mar, em Floripa, almoçando. Tínhamos mais estrada pela frente, rumo a Balneário Camboriú. Lá iríamos encontrar os feras do A-OK e do Square para uma sequência de shows juntos.

12 maio 2010

Eu levaria munição...

"... se fosse pra valer."
(Zander - Senso)

Saímos de Jaraguá do Sul com mais um integrante na van. Rudi "Roadie" é um amigo do China que precisava de uma carona pra Bal. Camboriú e embarcou com a gente disposto a dar uma mão no que precisasse. Mal sabia ele onde estava se metendo...

"Quem sabe a gente possa se encontrar pra falar de coisas bobas..."
(Deluxe Trio - Ou não?)

A viagem até Criciúma foi tranquila. Cerca de cinco horinhas na Brioi (BR-101) em obras. Eu estava mais do que acostumado, passou rápido. Na realidade o show seria em Içara, que é o município vizinho, próximo o suficiente pra agregar o público das duas cidades. Um pouco antes das 19:00 paramos num posto há duas quadras do Manga Rosa, onde seria o show, pro pessoal comer. Erro. Ir pra Criciúma (e região) e não comer um Xis é um erro tão grande que eu me recusei a comer os salgados requentados do posto. Todo mundo comeu, menos eu.

"Sempre o mais fácil; nunca perto de enfrentar."
(Zander - Do The Shindo)

Claro, essa foi minha desculpa pra não dizer que na minha garganta havia um nó tão grande que comida alguma passaria. Entendam, eu já sabia o que (não) ia acontecer. Mas era a primeira vez que eu voltava à região depois de vocês-sabem-o-quê e eu simplesmente não sabia como ia me sentir. Os lugares, as pessoas; é estranho quando o familiar se torna... estranho.

Às 19:07 chegamos no Manga Rosa e estacionamos a van. Operação-formiga pra levar todo o line pra cima por uma escada respeitável. O Manga Rosa é um pico na beira da estrada que liga Içara à Criciúma. É um galpão de dois andares e obviamente os shows rolam no piso superior. Lá dentro tem palco com um camarim e um bar. Telão passando videos de skate, palco simples mas com um espaço bacana, iluminação... tá, parei de reclamar da iluminação dos picos, juro! Enfim, tava rolando aquele clima Criciumense-hardcore-skate-surf-scream tão peculiar. Para o bem e para o mal, alguns rostos conhecidos. Ficamos por ali conversando e tomando umas cervejas enquanto o lugar ia enchendo. A primeira banda foi o Macaco Alado, bastante tradicional na área. Eu tinha uma lembrança mais "Dead Fish" deles. Mandaram uns covers de bandas clássicas e sons próprios. A seguir veio o Pause, banda do Gillian (que eu quase não reconheci sem dreads). É uma pegada DFC / Os Cabeloduro. O pessoal ia esquentando e lá por 21hs era hora do Zander tocar mais uma vez.

Alguém reclamou que eu não comento muito sobre a hora dos shows aqui no blog, mas entendam algumas coisas: 1) essas são as minhas impressões sobre a turnê. Para ler o tour report do Meu Rei, baterista, clique aqui. 2) eu vi 12 shows seguidos desses caras. Tirando uma diferença de equipo aqui e outra ali, não tenho muito de diferente pra falar sobre cada um. O que acontece é que esses quatro caras sobem no palco e MANDAM BRASA! Sempre! Toda vez! É high level do início ao fim! Vá ao show e veja com seus próprios olhos e ouvidos!

Eu disse que não reclamo mais da iluminação dos shows (que nesse caso era uma única luz de frente pro vocalista e a cor eu deixo pra vocês adivinharem). A verdade é que eu não tenho que reclamar MESMO. Os caras tocaram em um monte de picos com equipamentos precários e nem por um segundo deixaram de dar o melhor. Eu estava munido de um equipamento bastante razoável o tempo todo e minha obrigação era também dar meu melhor na hora de fazer os registros. Pode ser que eu nem sempre tenha conseguido, mas enfim... eu falo mais como um toque pra galera que monta rock clubs. Não pintem o teto de preto! Papel celofane tem o mesmo preço independente da cor, comprem outro que não seja vermelho! Economize na máquina de fumaça e não compre uma! É bastante simples! Fica aqui o meu apelo.

(PS: trabalhei no Moinho Eventos esses dias, PUTA iluminação profissa no palco e adivinhem: o técnico de luz NÃO DESLIGOU o vermelho DA FRENTE nem por UM SEGUNDO. Adiantou NADA!)

Fotos do show em Criciúma; Manga Rosa:
http://venancio.tumblr.com/post/532788079/zandericara

"Vamos fugir do Sol e ver quem vai nos alcançar?"
(Deluxe Trio - Impulso)

O show terminou por volta das 22:00 e acionamos novamente a operação conjunta pra desmontar equipo e carregar a van em tempo recorde. Às 22:25 nós estávamos saindo de Içara. Tanta pressa se justifica: tínhamos outro show no mesmo dia, em Florianópolis. Uma viagem de no mínimo 3 horas. Façam as contas. Uma pena, não pudemos ficar por lá e confraternizar direito com o pessoal. Bom, eu não posso dizer que estava triste por deixar logo o local, mas também não estava feliz.

01 maio 2010

"Mais estradas...

... menos lar."
(Deluxe Trio - Mais Uma Tarde Na Estrada, Sem Você)

Sexta-feira, 16 de abril de 2010. Acordei um pouco antes do meio dia pra arrumar a mala e conferir meu equipamento. Roupas limpas, baterias carregadas, sono quase em dia. Estava pronto e ansioso pra segunda etapa da turnê. A partir de agora viajaríamos com uma van alugada, levando backline de baixo e guitarra na carreta e com a companhia do Marcos “Chero”, tatuador e piercer aqui de Curitiba que mora com o Luan e faria esse corre com a gente como roadie.

Minha casa fica no caminho pra BR 101, então encontrei com os caras num posto de gasolina aqui perto. Entrei na van e estava rolando um DVD do Rage Against the Machine. Os próximos seriam os que eu levei. Pearl Jam, Slayer, Metallica e nessa pegada chegamos em Jaraguá do Sul por volta das 15:30. O Foston nos deixou na mão de novo, então paramos num posto e acionamos o China, organizador do evento na cidade e grande fera. Em instantes ele pintou por lá com alguns blóders pra nos salvar e guiar até o local do show.

Nós já sabíamos que o show tinha mudado de local por questões de alvará, mas não fazíamos ideia do que nos esperava. Chegando ao London Pub, por volta das 16:15, pra conhecer a casa, descarregar o backline e passar o som, nos surpreendemos. Pelo que nos foi passado, é a casa mais boy da cidade. Parece ser, mesmo. Era a primeira vez que o local receberia uma banda de hardcore. Teríamos o público do Zander, que havia comprado ingresso antecipado, mas o grosso da galera seria o público normal da casa. Interessante. Durante a passagem de som, o DJ residente se mostrou unbrazer total, soltando com desdém frases do tipo “eu vou estar com o decibelímetro ligado e, se passar, eu vou cortar” ou “banda de rock geralmente quer extrapolar no volume” e “nossa casa está situada num bairro nobre, então não pode exagerar”. Eu ouvia isso imaginando o Sanfs, todo sério, aumentando o Mesa Boogie no talo e pensando “foda-se, não vai ser esse cara que vai impedir a brasa de ser mandada!”.

Mais uma vez estávamos famintos, então o China nos levou até a Pizzaria Napolitana, que descontava a falta de criatividade do nome no cardápio bastante variado. Ainda assim, pecando pelo excesso de comodismo e falta de brasa, os caras pediram as pizzas mais padrão do universo (calabresa e 4 queijos??? Tá de brincadeira!) e mais uma estupidez completa vegetariana / brócolis. Eu e o Marcelão olhávamos pro cardápio com pizzas de coração, camarão, bacon (também conhecido como "vida" ou "Deus") e demais tentativas de delícia e não conseguíamos nos conformar com aquilo. Como dizem, a fome é o melhor tempero, então tudo bem. Da pizzaria seguimos pra casa do China, onde fomos muito bem recebidos pela mãe do cara. Ali tomamos banho e nos arrumamos pro show, munidos de novas camisetas fornecidas gentilmente pela Eighteen, marca que o China representa. O cara ainda conseguiu a extensão que precisávamos pra ligar os amps nos transformadores (tínhamos amplis 110 pra uma tour em SC, onde tudo é 220), correria total! Perto das 22:30, partimos. Era hora de show no London Pub.

"Hoje eu vim vender minha carne. Vai levar ou não?"
(Deluxe Trio - Abate)

Como o show seria num horário de balada, aproveitamos pra ficar ali na área externa, que conta com mesas e um bar braseiro, conferindo a flora e fauna locais que ia entrando aos poucos. O China mal podia conter sua alegria com a fila enorme e a casa enchendo, dava gosto ver o guri correndo de um lado pro outro. Agora duas coisas precisam ser ditas sobre Jaraguá do Sul e o London Pub: 1) rivalizou com Cascavel no quesito mulher bonita. A seu favor, o fato de que as mulheres estavam no local do show, não na balada ao lado. 2) O London Pub tem talvez o melhor chopp Heineken que já tomei na vida. Cremoso como poucos, muito bem tirado. Tomei seis ainda antes do show começar.

No intervalo entre as bandas de abertura o "DJ Unbrazer" soltava música eletrônica, hip hops gringos genéricos e as top 10 de qualquer rádio, fazendo a galera dançar. Na real a galera dançava do mesmo jeito com as bandas de rock tocando, era engraçado. O clima estava ótimo, o público era bonito e tinha também a galera do róque pra garantir o circle pit. Conhecemos o figuraça Bananeira, um tiozão roqueiro que é lenda na região por plantar bananeiras durante os shows de rock. Com toda a humildade e simpatia, o cara veio até a mesa pedir permissão ao Zander pra curtir o show "de cabeça pra baixo". Fera!

Apesar de ser uma casa top, as condições de luz não eram exatamente as que a gente encontra pra fotografar no Master Hall ou no Moinho (ou é Hellooch? Sei lá, muda sempre), por exemplo. O teto era muito alto, então eu poderia esquecer qualquer rebatimento de flash vindo de cima. De qualquer forma, raramente as condições são ideiais e quem fotografa show sabe que cada um é um desafio diferente e poucas regras e fórmulas servem pra tudo. O Zander mandava sua brasa habitual enquanto eu ia me adaptando às novas condições. Pelo menos a típica luz vermelha não estava presente. No lugar dela, as maravilhosas luzes azuis, roxas e brancas. Sensacional!

Fotos do show em Jaraguá do Sul; London Pub:
http://venancio.tumblr.com/post/532779240/zanderjaragua

Fim de show, som de balada, uma banda cover ainda se apresentaria... resolvemos ficar por ali mais um tempo, curtindo o pós. Camisetas trocadas, desodorante repassado, mais chopps e caipirinhas (a de vinho outro cara tomou no meu lugar, infelizmente), o clima estava propício pra azaração e Curtição dos Jovens. A confraternização com a galera local é uma das partes mais bacanas durante as turnês. Conhecer novos lugares, novas pessoas, novíssimas experiências. Muito legal, mesmo. Teve até um acidente automobilístico envolvido e depois disso eu estava dirigindo um Peugeot automático pelas ruas de Jaraguá, aparentemente sem destino. Quatro errantes. Loucura. Nos escondendo nas sombras. Que loucura... Depois ainda conhecemos o Oca, uma das maiores feras locais e dono do Bar do Oca (não diga), onde era pra ter rolado o show. Local totalmente roots e tradicional, onde a galera destruiu quilos de costela com maionese de batata e demais guloseimas madrugada adentro. Horas depois estávamos mais uma vez na residência do China, desmaiando em colchões e camas que o cara foi buscar não sei onde pra nos abrigar. Tô dizendo, o cara é correria master.

Acordei com o chamado pro almoço. Tomei um banho e encontrei o pessoal nos fundos da casa do China, onde mais uma vez a mãe do cara pecou pelo excesso de hospitalidade e nos preparou um BAITA rango braseiro. Chinemo, agradeça sua mãe forever. A todos os teus blóders e a você também, sem palavras. Foi tudo do caralho!

"E não é por medo, e nem nunca foi..."
(Noção de Nada - Planos à esquerda)

Colei com o Chero no mercadinho da esquina e abastecemos o cooler com mais cerveja. Tínhamos mais algumas horas de estrada pela frente, até Criciúma, local do próximo show. Um turbilhão de emoções diferentes começava a se formar dentro de mim. Eu não sabia dizer se me importava com isso. Eu realmente não sabia o que esperar. Pouco antes de sairmos, passei no banheiro e deixei tudo isso por lá. Era só um torcicolo intestinal, afinal de contas.

A seguir: Criciúma / Floripa e os primeiros perrengues.

27 abril 2010

A Place Called Home

06:15 am, pessoal bêbado de sono decolando de Webjet rumo a Curitiba, PR. Eu, Bil e Leo fomos presenteados com os últimos bancos da aeronave, aqueles que não deitam. A última coisa que eu lembro é de estar chorando de rir com alguma coisa que o Bil falava, mas já não me recordo o que era. Deitei a cabeça no assento da frente e tentei cochilar, meio sem sucesso.

"Eu só preciso existir e me sentir de volta ao meu lugar..."
(Deluxe Trio - Abate)

Pouco mais de uma hora depois, estávamos em Curitiba e a Dona Venância (minha mãe, que obvimente não se chama Venância, mas Therezinha) estava ali pra nos recepcionar. Carreguei meu carro com toda a bagagem de equipos do Zander pra livrá-los do incômodo no ônibus que pegariam rumo ao QG da LodiProd, também conhecido como Casa do Luan e do Chero. Chegando em casa foi o tempo de jogar a roupa suja (toda a roupa que eu tinha levado) pra fora da mala e pronto, eu estava dormindo.

"O que será que eu gosto tanto em você?"
(Zander - Battlefield)

Acordei no começo da noite na ânsia de um reencontro que não aconteceu. Ok, talvez amanhã. Curitiba estava estranha comigo. Eu sei, a gente ainda se ama. Só que parecia que estávamos brigados. Eu queria voltar pra estrada, minha cabeça esperava pelo show da noite (que não existia). Pela primeira vez, a volta pra casa era mais uma angústia que um alívio. Os caras do Zander obviamente estavam ainda mais esgotados que eu e virariam o dia dormindo. Eu precisava sair de casa, precisava ver gente. Precisava de quatro rodas no asfalto e uma nas mãos. Não tinha. Precisava de um abraço de boas vindas e um sorriso bem próximo. Não tinha. Precisava de coragem pra enfrentar dois dias de vida normal, de rotina. Não tinha. Eu queria te ver... mas isso era algo que só eu queria.

De qualquer forma, usei o tempo que tinha pra descarregar as fotos e vídeos da turnê do laptop pro meu desktop. Estávamos na metade da turnê e eu tinha cerca de 80Gb de material. Dormi de novo. Meu corpo estava exausto, a mente também, mas não sei... algo mais além do corpo e da mente estava agindo. A angústia e inquietação não passavam. O dia seguinte se arrastou até perto das 18:30, quando fui até o QG LodiProd pra encontrar mais uma vez com os caras. A ideia era gravarmos alguns depoimentos sobre a turnê. Fizemos isso e depois fomos dar uma volta pela cidade. Comemos no McDonalds. Entramos no James e o som estava muito ruim. Parecia realmente tudo fora do lugar. Minha cidade e todos nela estavam dispostos a me devolver pro mundo. E no dia seguinte eu atendi de bom grado a esse chamado. Era hora de voltar pra estrada.

25 abril 2010

Bob Marley & The Vikings

Acordei por volta das 10:30 de segunda-feira, dia 12 de abril. Na verdade os dias da semana pareciam sempre os mesmos, pra mim. Desde o início da tour, era sempre sexta ou sábado na minha cabeça. O foursquare me ajuda a lembrar de horários e datas, bastante útil.

Essas pausas em hotel são boas pra reorganizar a mala, separar as roupas sujas, verificar quantas cuecas e pares de meia ainda restam, essas coisas. Fiz isso, organizando também meus equipamentos de foto, e tomei um banho rápido. Por volta de meio dia todos estavam no saguão do hotel encontrando a grande fera Cassio, organizador do próximo show, na cidade vizinha de Canoas. Ainda não entendi muito bem a geografia local, mas sei que estávamos em Porto Alegre, o Cassio mora em Sapucaia do Sul e o show seria em Canoas. Tudo bem, vamos nessa! Carregamos os equipos em dois carros e partimos, ainda com muito sono e mais uma vez famintos.

Chegamos ao QG do Cassio em Sapucaia, o local onde dormiríamos após o show. Frigobar entupido de cerveja Polar, Xbox, WiFi e colchões pra nos esticarmos. Recepção de gala! Ficamos por ali meio dormindo, meio acordados, até que resolvemos que iríamos almoçar no Canoas Shopping. Pro meu desespero, o que nos esperava era uma caminhada curta até o trem / metrô e outra caminhada, essa não tão curta, até o shopping. E tudo de volta. Ok, vamos lá! Curativos nos pés refeitos, sol pegando com força, ciático me dá um olá, me manda um oi. Meu Stacker Triplo do Burguer King começou a ser devorado às 16:20. Duvido que ele tenha sobrevivido até as 15:00, com a fome que eu estava. Todos alimentados, voltamos pra Sapucaia e ficamos jogados no quarto do Cassio, conversando, vendo videos de black metal e bebendo polar. Alguns cochilaram, outros foram cortar o cabelo (e acabaram por fazer barba, cabelo e bigode), enfim... relax.

"... e se ela quiser beijar alguém não é problema seu, nem meu."
(Zander - Como arde, sô!)

Lá pelas 22:00hs chegamos ao Wave Music Hall, em Canoas. Descarregamos os equipos no camarim, demos um confere na estrutura de palco, luz e som e fomos comer na lanchonete ao lado. Mais sanduíches monstros. Era meu segundo ou terceiro X-Coração da tour, espetacular. Mais cervejas por ali, confraternizando com a galera local, sorriso ao ver que uma certa mocinha de PoA tinha aparecido... enquanto Marcelão e Leo usavam guardanapos pra montar um novo set list pra noite, que recebeu olhares de desaprovação do resto da banda (e meus também, era muita ousadia abrir o show com aquela música).

Pra uma segunda-feira, em Canoas - RS, o show até que contou com um público bacana. O local não era dos piores pra se fotografar. Claro que era todo preto, com excessão de uma parede de tijolos aparentes atrás do palco. Eu não sei de quem foi essa ideia, mas vocês podem imaginar o que acontece com a acústica de um lugar se você reveste a parede que fica atrás da bateria com tijolos a vista. Até onde eu sei esse foi um dos shows que mudou de lugar na última hora, então a estrutura da casa não era ideal em termos de som. O Leo sofreu um pouco com os pedestais e pratos caindo e tambores andando de um lado pro outro, o som da guitarra do Bil lembrava um pouco um chuveiro elétrico brigando com uma colméia de vespas, mas nada os impediria, nesse show ou nos próximos, de mandar toda brasa que tinham pra mandar. E assim foi!

Fotos do show em Canoas; Wave Music Hall:
http://venancio.tumblr.com/post/520285764/zandercanoas

O Cassio tinha mentido pra todo mundo que o show seria no dia do aniversário dele, então vários amigos dele apareceram e no final do show ainda rolou um parabéns / confraternização. Foi mais ou menos na hora em que o Bob Marley apareceu e levou a menina-sorriso embora. Não se pode ganhar todas. Voltamos pro QG ainda a tempo de acabar com as cervejas do frigobar do Cassio, dar algumas risadas e desmaiar. Disseram que dormi abraçado no MacBook, mas eu acho que é mentira.

No dia seguinte rolou um almoção na casa do Cassio e ele nos levou de volta pra Porto Alegre, onde a banda faria um show extra no Estúdio Aliens. No caminho todo o Luan tentava contato com o Knela pra agilizar nossa estadia na capital gaúcha por mais um dia, mas o cara (ou o celular do cara) tinha desaparecido. Chegamos no local por volta das 13:30. Obviamente estava fechado. Mais algumas ligações perdidas e finalmente conseguimos contato com o Knela, podendo assim liberar o Cassio que já estava atrasado pro trampo. Valeu por todo o corre, cara! Poucos minutos depois, o Knela chegou e fomos procurar um hotel pra ficar. Achamos um bem barato com espaço pra 4 pessoas. Os outros 2 (decidimos que seríamos eu e o Leo) ficariam no Estúdio. E então conhecemos outra grande fera desse rolê: Alemão.

"Eu sei que é dose e até estranho, não deveria me sentir assim..."
(Zander - Ponte Aérea)

Alemão é o dono do Estúdio Aliens, em Porto Alegre. São duas salas de ensaio com equipamento bem bacana com bar em anexo, no andar térreo. No andar de cima é a casa do cara. Um quarto muito doido repleto de memorabilia roqueira. Set lists de shows gringos, pôsteres e cartazes, centenas de CDs e DVDs, faixas, bandeiras e credenciais. O cara trabalha como roadie de bandas gringas que passam pelo Brasil, aluga equipamento pra show, toca numa banda, enfim... vive no rock. Já viajou pra Europa num esquema pé duro total, trampando de roadie por comida e lugar pra dormir, nos mostrou dezenas de fotos desse rolê maluco. Visualmente, o cara parece um bárbaro viking das histórias do Conan. Loiro, cabeludo, barba gigante trançada. Gente finíssima, nos ofereceu o que tinha e o que não tinha (e olha que o cara tinha um pouco de tudo). Estávamos tão à vontade que o Luan chegou a dormir na cama do cara e babar no travesseiro, enquanto assistíamos aos DVDs que o cara tinha, ouvíamos músicas e histórias, regados a cerveja Polar e um green de potência poucas vezes vista por esse organismo que vos escreve. Não que eu seja o pai do bol, muito pelo contrário. Conto nos dedos da mão quantas experiências naturais dessa espécie eu tive na vida. Mas bicho, eu estava vendo gnomos (e vikings). Entrei numa vibe tão errada que achei que o Alemão iria roubar meu rim e vender no mercado negro, tava começando a ficar Paranoid mesmo. O Airbourne mandava brasa no DVD do Wacken Open Air, o Luan babava, Marcelão lá no outro canto tomando uma cerveja sossegado e o Leo do meu lado tinha um semblante de quem havia se perdido e nunca mais seria encontrado. Nisso outros amigos do Alemão tinham chegado, alguns no mesmo visual viking e eu só pensava: "fodeu, vai morrer todo mundo!" Sei lá quantas horas depois consegui convencer os caras de que precisávamos comer alguma coisa e seguimos pro (dizem) tradicional Alfredo Restaurante e Café. No caminho a minha pira só me fazia pensar que quando voltássemos todo nosso equipamento de música e foto teria sido vendido e nós seríamos feitos escravos num barco viking.

O X-Coração do Alfredo me livrou um pouco dessa teoria maluca. Comi dois, gigantes. Voltamos pro estúdio e obviamente tudo estava na normalidade. Tentei relaxar no quarto que o Alemão tinha nos providenciado e comecei a me sentir mal por ter pirado tão errado. O cara realmente é uma fera, tava fazendo o possível pra nos acolher bem, e eu achando que seria assassinado. Ok, as paredes do quarto pichadas com crucifixos invertidos não me deixavam relaxar 100% naquele momento, mas só temos o que agradecer à hospitalidade do cara, mesmo!

"... ou você vai me ligar pra dizer que hoje vai complicar?"
(Deluxe Trio - Ou não?)

Porto Alegre talvez seja a cidade que abriga mais "conhecidos que não conheço". Pessoal com quem converso pela internet a algum tempo mas nunca encontrei pessoalmente. Uma amiga em especial não pode aparecer por lá pra dividir histórias e cervejas e isso me marcou um pouco, mas entendi... quem sabe da próxima.

No final das contas o Leo ficou no Estúdio mandando mais cervejas e fui pro hotel com o Luan e o Marcelão, pra tentar dar uma cochilada antes do show. Em turnê você aprende uma coisa básica: nunca deixe passar a oportunidade de 1) tomar banho, 2) se alimentar e 3) dormir. E assim foi, até o horário de voltarmos pro show no Estúdio Aliens. Na verdade, um ensaio aberto. Era uma sala de ensaio com equipamento muito bom (o melhor som da turnê até então, disparado) mas espaço pra não mais de 30 pessoas bem apertadas. A luz branca foi ótima pras fotos, pude brincar com ISO mais baixo pela primeira vez. As paredes lembravam a substância do relato anterior, meio verdes, meio amarelas, prensado... rolou legal, a banda pode experimentar uma mudança no set list, o ar condicionado fazia a sala me lembrar da minha cidade no inverno e enfim, eu estava em casa. Antes da meia noite o show já tinha acabado e estávamos mais uma vez na vibe da confraternização na área externa do Estúdio Aliens.

Fotos do show extra em Porto Alegre; Estúdio Aliens:
http://venancio.tumblr.com/post/522183091/zanderpoadois

A primeira coisa que li sobre Porto Alegre quando cheguei na cidade foi um recado do Cuper no Twitter dizendo que eu só precisava fazer uma coisa estando lá: comer no Speed. Mais uma vez o Cassio fez esse corre salva-vidas. Ele tinha colado no show e foi até a lanchonete buscar os pedidos. Era o meu sexto Xis-Coração em 2 ou 3 dias. O maior de todos e também o mais gostoso. Tínhamos um vôo marcado pras 6:00am, mas ninguém parecia se importar. Um pouco mais tarde, perto das 3:30am, voltei ao Hotel Acaju (que tinha um A caído e pra mim sempre será Hotel Caju) com o Sanfs e o Luan. Antes demos um oi pra Professorinha, figura lendária das calçadas da Farrapos, só pra conferir o material, sem aula particular.

Mais uma vez no hotel, mais um remanejamento na mala, menos horas de sono. Às 5:15am meu despertador tocou e era hora de partir pro aeroporto e deixar Porto Alegre pra trás.

A seguir: day off em Curitiba.

24 abril 2010

"Camisas do Iron Maiden...

... de Porto Alegre a Manaus."
(Zander - Senso)

Eu já conhecia o aeroporto de Porto Alegre, mas era tudo que eu tinha visto da cidade até então. Tinha combinado com o resto da banda que nos encontraríamos ali pra esperar o Knela, que organizou o show na cidade. Como o check in no hotel seria ao meio dia, iríamos todos juntos. Só que quando cheguei, às 11:40 de domingo, não havia ninguém lá.

Pensei comigo: "os caras tão se escondendo, é Pegadinha do Mallandro, daqui a pouco eles saem de trás de uma pilastra gritando RÁÁÁ!" Nada. Liguei no celular do Luan, caixa postal. A mesma coisa com os celulares do Bil, do Marcelo e do Léo. E agora, eu entro no próximo avião e volto pra casa!? Tentei ligar pra todos eles mais umas 48 vezes, até que o celular do Léo me respondeu com uns chiados macabros. Parecia aquelas gravações de filme de ET, com mensagens escondidas, tipo "fodeu, vai morrer todo mundo". Alguns minutos depois recebo uma ligação de um número desconhecido. Era o celular do Sanfs, o único que parecia funcionar naquele momento e único que eu não tinha anotado. Deveria.

Sanfs (ou Sanfona, ou Gabriel Arbex), é o cara mais centrado do Zander. O "Todo Sério". Você olha pro semblante do cara tomando um café, fumando um cigarro ou concentrado no laptop e sabe que ali está um cara em quem pode confiar. Imagino que seja o mesmo sentimento que os companheiros de banda devem ter quando o vêem esmirilhando seu instrumento, no palco. Sanfona não está ali pra brincadeira, amigo. Mas com certeza está se divertindo muito, o tempo todo.

"Queimo os meus pés, eu sei, mas não volto por nada."
(Deluxe Trio - 15 Quadras)

Com as intruções passadas pelo Knela (outra fera do rolê) por telefone, encontrei o ônibus da Infraero que me deixou na passarela do metrô. Meio metrô, meio trem... não sei bem o que é aquilo. Eu só sabia que tinha que descer na Estação Mercado. Vi que era a última, então não tinha como errar. Era 12:00am de domingo, estava bem vazio, foi rapidinho. Desci na estação e era pra ter alguém ali me esperando. Não tinha. Novas intruções por telefone, mais quadras andando com os pés arrebentados. Obviamente a rua até o Lido Hotel era uma subida. Jóia. Porto Alegre é bonita nessa região ali, aos domingos, ruas vazias. Não foi um sacrifício. Às 12:42 eu estava no pequeno quarto. Coloquei as pilhas e baterias pra carregar, ocupando cada tomada livre do quarto, arranquei o tênis e as meias pra dar um descanso pros meus pés, em estado deplorável, e desmaiei assistindo Rambo na televisão.

Quando acordei e tentei caminhar até o banheiro (não mais do que 2 metros), meus pés gritaram. Preparei um novo curativo e, após um convite bastante educado recebido por SMS pedindo para que eu liberasse o quarto (não me perguntem pra quê), desci até o hall e perguntei onde encontraria uma farmácia aberta. Pra minha sorte, eram só mais 3 quadras subindo a rua. Mertiolate, mais band-aid, esparadrapos e algodão. Voltei ao hotel e como algo na comunicação entre os pares deu errado, pude subir pro quarto e descansar mais um pouco.

Chegamos no Entre Bar lá por 20:00 e a última banda de abertura já estava tocando. Descarregamos e na entrada já senti que o esquema seria tenso. O lugar é BEM pequeno e estava ficando cheio. Guardamos o equipo num quartinho e começamos a confraternização com os locais. Público muito bonito, pessoas simpáticas, logo estava conversando sobre fotografia com a Amanda, uma garota que tem bastante experiência fotografando bandas ali. Ela me deu dicas valiosas de posicionamento e do que eu poderia esperar quando o show começasse. Valeu! Fizemos nossa janta de sanduíches caseiros e coca-cola no meio da galera, conversando e nos reconhecendo.

"Que seja breve, mas intenso!"
(Noção de Nada - Um Segundo)

Cerca de 100 pessoas se aglomeraram num espaço onde cabiam 60, em frente ao palco, e muita brasa foi mandada naquele local. Eu me senti como o Tux fotografando os shows de hardcore sXe, levando empurrões, chutes, cotoveladas e pisadas no pé (sim, aquele pé que já estava naquelas condições). Mas estava felizão pela intensidade do momento. A galera de PoA estava fazendo o melhor show da tour até então. Uma aula no palco e fora dele. Microfone falhando, PA estourando, amplificadores que não aguentaram a pegada... mas a intensidade só cresceu, a cada música. Diferente do que acontece em outros lugares, em que os rapazotes costumam se aproveitar das meninas que se atrevem a dar stage dives, em PoA eu vi garotas LINDAS preocupadas ZERO com a maquiagem e o cabelo se enfiando na roda, se divertindo muito e cantando as musicas no ponting finger sinistro, sendo respeitadas por todos. Mais uma aula!

O Entre Bar tem um teto bem baixinho, mas pelo menos era branco! Tá certo, era um branco cheio de desenhos de ETs, duendes e Bob Marleys, mas o flash era rebatido e consegui algumas fotos que acredito traduzirem o que foi o show. Perto do final do show a Amanda me salvou mais uma vez, conseguindo pra mim um lugar em cima do palco pra eu variar um pouco o ângulo. Era bastante apertado. Tem uma foto que eu fiz do Sanfs nesse dia, um super close do rosto dele, que traduz bem a distância em que eu estava do cara. Não tem muito zoom, é aquilo ali mesmo. A dificuldade maior nesse dia foi fazer com que a lente não ficasse embaçada por mais de 20 segundos. Era praticamente impossível com todo aquele calor humano e suor no ar. Mas rolou.

Fotos do show em Porto Alegre; Entre Bar:
http://venancio.tumblr.com/post/515962402/zanderpoaum

Depois do show rolou mais uma cervejinha, confraternização com a galera local, flertes, sedução e decidimos que a noite seria no Cabaret do Beco. Nos disseram que ia rolar uma noite black. Passamos no hotel pra tomar banho (outro, dessa vez com água que não era suor) e decidimos ir a pé pra balada. Minha coluna mandava recados por intermédio do nervo ciático de que aquilo tinha sido uma má ideia. Os pés já não reclamavam mais, depois da verdadeira pantufa de algodão e esparadrapos que eu criei. Caminhamos por Porto Alegre na madrugada, o lugar me lembrava um pouco Buenos Aires. Comentei isso com o Sanfs, que morou 3 anos por lá, e ele me confirmou que realmente lembrava.

Chegamos no local 00:50, famintos (de novo). Mandamos um sanduíche imenso (tradição na cidade, todo lanche lá é imenso) e entramos no Beco. Estava bem vazio mas o som estava incrível. Algumas cervejas e vodcas foram suficientes pra soltar o esqueleto dos mais tímidos e logo estávamos mandando brasa na pista, dançando clássicos do real funk (e do carioca também). Conheci uma garota incrível com quem dividi algumas Heinekens. Há muito tempo eu não me divertia como naquela noite. Os que permaneceram solteiros voltaram juntos num taxi e nosso comentário era "uma noite braseira de verdade é aquela em que você não pega ninguém e mesmo assim se diverte muito". Não sei até que ponto isso era sincero da nossa parte ou era desculpa pra frustração sexual, mas foi assim. Acabamos na frente do hotel conversando sobre mulheres e relacionamentos, cada um contando seu caso. Essa conversa, aliada às Heinekens da noite, me fez gastar R$0,30 num SMS que eu achei que não mandaria tão cedo. Subimos e rolou uma nova divisão de quartos, porque alguns deles já estavam ocupados por, digamos, pessoas que não faziam parte da equipe original. Um pouco de internet até a adrenalina baixar e logo eu estava dormindo como se não houvesse amanhã.

A seguir: Canoas, Bárbaros Vikings e o show extra em Porto Alegre.

23 abril 2010

Maringá

Ou "deus da brasa pra quem não sabe mandar".

A van é dormitório, refeitório e sala de conferências, durante uma turnê como essa. A viagem de Cascavel para Maringá serviu para que colocássemos em dia as aventuras musicais/psicotrópicas/sexuais/alcoólicas e ríssemos muito. Cascavel deixou saudades e se tornou parada obrigatória de qualquer próxima turnê. Mesmo que seja no Leste Europeu. A essa altura o "Meu Rei" já tinha a pontuação muito afrente de nós todos.

"Não vamos controlar medos, impulsos e desejos."
(Deluxe Trio - Impulso)

Meu Rei é como chamamos o baterista Leonardo Mitchell, mais um baiano que faz parte desse balaio que é o Zander. Na verdade eu acho que ele é nascido no Rio, mas morou muitos anos em Salvador antes de voltar e se juntar ao Zander no Rio de Janeiro. Ele trás consigo essa aura zen, sempre muito tranquilo, mas a ferocidade da malandragem carioca logo fica evidente quando ele assume as baquetas e manda jazz, funk e hardcore misturado no groove. Pessoalmente, eu não vi ele perder uma sequer, sempre no beat. Fera!

Enfim, chegamos em Maringá e acionamos o Foston (GPS) pra encontrar o Pub Fiction. Não deu muito certo e apelamos pro método old school: perguntar pras pessoas onde ficava a tal Av. Rio Branco. Encontramos o local e em poucos instantes o cara que abria o bar apareceu também. Agora adivinhem como era o pico. Certo, luzes vermelhas e tudo pintado de preto. Lá vamos nós de novo... descarregamos os equipamentos e enquanto a galera do Falling for You passava o som, seguimos para a chácara do Chiquinho na cidade vizinha, Marialva. O clássico rango underground nos esperava: macarrão. Muito macarrão. Esse estava especialmente bom, com duas opções de molho e muita carne moída. Não sei se foi a mãe do Chiquinho que cozinhou pra gente, mas de qualquer forma, obrigado você que preparou esse macarrão! Eu estava faminto (situação que se repetiu com frequência). O Falling For You se juntou a nós e ao Amnesia e comemos como se não houvesse amanhã. A galera do digestivo encontrou o que queria enquanto eu me degladiava com uma porta de banheiro que insistia em permanecer aberta. É uma técnica ninja obrar segurando a porta, mas consegui. Na segunda etapa (aquela que envolve o papel higiênico) eu larguei o foda-se (e a porta aberta) e quem quisesse que fosse olhar. Saquei da mochila um pacote de lenços umidecidos íntimos e esse foi o meu banho nessa noite. Em seguida era hora de show no Pub Fiction, partimos de volta pra Maringá.

Chegamos bastante cedo, antes mesmo da casa abrir, e aos poucos um pessoal foi se aglomerando na entrada do bar. Isso significa que o pessoal já estava savatage, escolhendo vítimas em potencial. Entre elas, uma deusa acompanhada de um cara que levou 90 minutos pra lhe dar um selinho e obviamente estava querendo ser sua melhor amiga, não namorado. Realmente, deus dá brasa pra quem não sabe mandar. Me apaixonei 4x antes mesmo de o show começar, mas segurei minhas frases típicas mais sinceras (a saber: "te amo", "foge comigo" e "eu pago"). A primeira banda que tocou era local, não me recordo o nome. Depois o Falling For You deu seu recado e em seguida o Amnesia fez seu melhor show, finalizando com um cover do Sugar Kane que esquentou bem o público. A essa altura eu já tinha me apaixonado pela quinta vez, dessa vez de verdade, mas a guria mais linda do Pub Fiction me deixou a ver navios, obviamente. Eu devia ter soltado um "foge comigo" quando tive a chance.

Enfrentei alguns problemas técnicos nesse show. Pra começar, até então eu não havia tido a chance de recarregar pra valer as pilhas do flash, então o jogo que eu tinha durou 2 cliques e morreu. No escuro do Pub eu demorei quase 1 musica inteira pra achar outro set de pilhas carregadas dentro da mochila. A luz era tão precária que mesmo minha 50mm 1.8 com ISO alto não estava dando conta, mas no final tudo se resolveu. Geralmente a saída pra quando a luz vermelha está incomodando é setar a câmera pra PB e largar o flash direto. Isso resolve a maioria dos casos, mas testei também alguma coisa com baixa velocidade e movimento.

Fotos do show em Maringá; Pub Fiction:
http://venancio.tumblr.com/post/513452889/zandermaringa

"Paguei pra ver até onde vão me levar meus pés enquanto estão no ar"
(Deluxe Trio - Meus Pés Enquanto Estão No Ar)

O show acabou bastante tarde. Carregamos a van correndo, me despedi dando um beijo no rosto da guria que ficou com um pedaço do meu coração (te amo, foge comigo... eu pago!) e partimos pro aeroporto. Era hora de nos separarmos dos braseiros do Falling for You e Amnesia. Deixamos pra trás novos amigos, com a promessa de voltar sempre, e seguimos fazer o check in. Meu vôo era separado do resto da galera, uma hora mais tarde. Eu não estava pronto pra sentir o maior sono que já se apoderou de mim na vida. Mesmo o wifi do aeroporto não foi suficiente pra me manter ocupado. Pra piorar, eu havia deixado o cabo USB na mala maior, que foi com a banda no outro avião, e não tinha como descarregar as fotos dos shows passados. A manhã se arrastou e eu começava a delirar de sono quando meu vôo foi chamado. Dentro da aeronave eu apaguei e acordei em Campinas, no Aeroporto Internacional de Viracopos. Eu não entendia direito essa conexão, já que deveria estar indo pra Porto Alegre... mais uma hora sofrendo de sono no saguão e meu segundo vôo foi chamado. Mais uma vez, apaguei em instantes e acordei na capital gaúcha.

A seguir, Porto Alegre.

22 abril 2010

Cascaveletes

ou "Glup!"

Além de servir pra eu testar o equipamento, o show de Foz do Iguaçú serviu também para que eu me familiarizasse com o Zander ao vivo. Pra quem fotografa bandas é fundamental ter um certo tipo de entrosamento com os músicos. Esse entrosamento é unilateral, uma vez que você não deve interferir no show, mas precisa estar conectado com a banda para extrair as melhores imagens dos melhores momentos. Conforme os shows foram rolando eu fui pegando a manha e os trejeitos de cada um e, na minha opinião, as fotos melhoraram consideravelmente.

Terminado o show de Foz, ainda demos mais um tempinho no bar tomando as últimas cervejas e nos despedindo do pessoal local. A partir dali a viagem seria feita de van, junto com a galera das bandas Amnesia e Falling For You, de Maringá. Rapaziada nova e cheia de gás capitaneada pela grande fera Galo, que fez todo o corre por lá. Ao contrário do que se pode imaginar, a bagunça na van foi feita pelos velhos do Zander e sua equipe (eu e o Luan), enquanto os mais novos tentavam dormir e descansar. Foi mal aí, moçada!

"... vai dar bolha até seu dedo sangrar."
(Zander - Em Construção)

Chegamos em Cascavel lá pelas 5 da manhã de sexta-feira, dia 09 de abril, com muito frio e fome. Caminhamos pela madrugada atrás de algum podrão mas não encontramos nada aberto. Voltamos ao Hotel Príncipe e resolvemos esperar pelo café da manhã. Dividi um dos quartos com o Marcelão e o Bil e aproveitei o tempo de espera pra descarregar o material dos cartões no laptop. Às 6:30 o café da manhã foi servido. Comemos como se não houvesse amanhã e desmaiamos. Na estrada parece que nunca se dorme o suficiente e próximo ao meio-dia estávamos de pé mais uma vez para o almoço que a galera conseguiu pra nós. A caminhada de apenas 4 quadras do hotel até o Restaurante Cavagnollo foi o inferno pra mim. Minha bolhas estouraram e o tênis novo que comprei no Paraguai (75 reais num Vans Old School, lindo!) ainda estava se adaptando ao meu pé e me machucando. Foi osso. De volta ao hotel, comprei esparadrapo, algodão e band-aid pra fazer curativos nos pés e poder caminhar mais uma vez.

O problema agora era a minha passagem de Maringá para Porto Alegre. Como entrei de última hora na tour, ficou faltando esse trecho e os preços promocionais não existiam mais. Com a ajuda da rapaziada local, eu e o Luan encontramos uma agência de viagens onde a simpatissíssima Andréa resolveu meu problema por módicos R$420,00. Com a passagem em mãos, agora era só esperar pelo show de Cascavel, que seria no Lounge Bar. No começo da tarde fizemos check out no Hotel e fomos pra casa de um blóder onde dormiríamos após o show. A galera organizou um churrasco braseiro com muita cerveja e o esquenta pro show foi por ali mesmo. Esse foi o evento que me batizou como "Marrone" pro resto da trip. Munido de um violão que apareceu por lá, Marcelão começou a mandar clássicos do cancioneiro sertanejo e (quem me conhece, sabe) eu entrei de sola, cantando com ele. Bastante divertido, mas era hora de show no Lounge Bar e fomos pra lá.

"Sem provar alguma coisa que não seja de plástico..."
(Noção de Nada - Orgânico)

Chegando no local do show em Cascavel nós já pudemos confirmar a fama que a cidade tem de abrigar mulheres incrivelmente bonitas. O Lounge Bar fica numa esquina, cercado de baladas eletrônicas e sertanejas. Ao lado, o Bielle Club. O desfile que presenciávamos seguia essa linha aqui: http://www.bielle.com.br/fotos/?id=406. Com algum tempo sobrando antes do show começar, descarregamos o equipamento e fomos provar o chopp caseiro da Martignoni Beer. O local estava infestado com um público sub-16 que logo precisou ir embora e a dupla sertaneja tocava covers num som bastante ruim. O chopp era encorpadão, desceu bem. Devidamente abastecidos com a iguaria local, voltamos ao Lounge Bar e ficamos por lá, confraternizando com as locais enquanto Amnesia e Falling For You mandavam brasa.

Esse show de Cascavel foi uma experiência totalmente diferente do primeiro, pra mim. Se na maioria das casas o teto é pintado de preto, rebatendo 0% do meu flash, dessa vez eu tinha um teto verde disponível. Feião. Alguns clicks de teste e consegui um resultado satisfatório. A galera respondeu muito bem ao show e as fotos começaram a ficar com a cara que eu imaginava antes da turnê começar, mas eu ainda tinha um longo caminho pela frente até realizar o que tinha em mente.

Fotos do show em Cascavel; Lounge Bar:
http://venancio.tumblr.com/post/511742328/zandercascavel

Saímos do show e passamos um tempo curtindo a continuidade do desfile informal que é a saída do Bielle. Impressionante. Enfim, dividimos a galera nos carros da rapaziada local e voltamos pro QG onde estávamos hospedados. Descobrimos que a casa estava sem água, então esse foi o primeiro dia sem banho. Perrengues da estrada, mas o amor pela parada (aliado a algumas situações específicas que terei de manter em segredo pra garantir a integridade moral dos meus amigos) faz valer todo o rolê! Acordamos mais uma vez por volta do meio-dia e almoçamos no Restaurante Irani, um bom buffet self-service anexo a um supermercado. Por volta de 14:30 estávamos mais uma vez na van, rumo a Maringá.

(continua...)

EDIT: não posso deixar de mencionar que na manhã seguinte o Galo fez um corre frenético com o resto da galera de Cascavel e descolou banho pra todo mundo. Grande fera!

"Estive fora por alguns dias...

... e não é fácil estar aqui de pé."
(Deluxe Trio - Zelig)

Começou de brincadeira. Há alguns meses li um post do Bil no Facebook dizendo que o Zander estava agendando uma turnê pelo Sul. Deixei um comentário do tipo "vou entrar nessa van em Curitiba e só desço quando acabar!", mas não estava levando a sério essa hipótese. O tempo foi passando, a tour se aproximava e eu continuava com meus afazeres por aqui. Segui fotografando eventos na cidade, viajando com outras bandas nos finais de semana, me preparando pra semana de provas na faculdade, até que o Luan Lodi, da Lodi Produções (responsável pela agenda do Zander no Sul) me convidou para acompanhar a segunda etapa da turnê, que englobaria os shows de Santa Catarina, o de Curitiba e o de Paranaguá. Aceitei prontamente o convite e pra mim isso já seria uma honra e um prazer imensos.

Pra quem não está familiarizado com o underground, explico: o Zander é a nova banda do Bil (Gabriel Zander), um dos grandes ícones desse meio. Ele foi o fundador, principal letrista e frontman (mesmo quando era também baterista) do Noção de Nada, banda de grande importância pro hardcore nacional. O cara sempre foi um exemplo pra mim quando comecei a me envolver com esse som e de forma muito bacana acabamos trabalhando juntos quando ele aceitou o convite para produzir o segundo disco do Self Defense, em 2007. De lá pra cá meu respeito e admiração pelo trabalho do cara só cresceram e pude conhecer melhor também os outros caras da banda, por isso estava tão empolgado em participar dessa turnê. Ainda que fosse pela metade.

Minha surpresa veio num dia em que eu estava no QG da Lodi Produções discutindo um outro projeto, que envolvia o A-OK e outros shows. Surgiu a oportunidade de acompanhar a turnê completa, só precisávamos resolver alguns lances como passagem de avião e hospedagem pra mim nos hotéis em que a banda ficaria. Uma pessoa a mais não é um gasto assim tão grande para os contratantes dos shows. No caso das passagens de avião isso era um problema sério, pois os preços baixos costumam rolar só pra compras com antecedência, que era o caso do restante da banda.

"... e a gente vai queimar os pés no asfalto."
(Zander - Outro Dia Mais)

A turnê começou numa das cidades mais distantes da agenda, Foz do Iguaçú. De um dia pro outro as passagens de avião dobraram de preço e ficou resolvido que eu e o Luan viajaríamos de ônibus. Metade do preço, 10x o tempo de viagem. Partimos um dia antes do previsto, nas duas primeiras poltronas. Tem o janelão como vista e apoio para os pés (nós dois temos mais de 1,80m) e seríamos os primeiros a morrer, de forma rápida e indolor, no caso de uma colisão frontal. Foram 10 horas até Foz e menos de 10 minutos de sono. Não sei se foi minha coluna ou a ansiedade pelo que estava por vir, mas não consegui dormir a viagem inteira. Chegamos em Foz de manhã cedo e logo o Rafael Fraida (Assoalhos) apareceu pra nos buscar, acompanhado da fera Fernandão, um amigo dele de São Paulo. Passamos numa padaria pra tomar o café da manhã e seguimos pra casa do Rafa. Ainda era muito cedo e aproveitamos pra tomar um banho rápido e irmos pro Paraguai.

A casa do Rafa em Foz fica a duas quadras da fronteira, você consegue ver os prédios do outro lado da ponte. Fomos a pé. Foi minha primeira vez em Ciudad del Este e eu espero com todas as minhas forças que tenha sido a última (na verdade já houve uma segunda vez, no dia seguinte. Essa sim, a última). O lugar é caótico, pra dizer o mínimo. Perdi a conta de quantas vezes me foram oferecidos pen drives, meias, pó, lança-perfume, marijuana e tudo mais "que procuras, amigo". Os preços baixos empolgam, mas pra mim não compensam todo o stress. Minha coluna deu o tom do que seria o restante da viagem já ao atravessarmos a ponte, com o ciático pegando forte e me obrigando a fazer paradas estratégicas de 5 minutos pra poder continuar andando. Isso deve ter atrasado todos os programas que fizemos a pé e irritado um pouco o resto da galera. Foi mal. Não estávamos com o pessoal do Zander, que chegaria de avião à tarde vindos do Rio de Janeiro, onde eles moram.

Voltamos do Paraguai ainda antes do almoço e pra mim o dia já tinha durado umas 30 horas. Lembrando que eu estava com 10 horas de viagem nas costas, sem dormir. Depois do incrível almoço na casa dos Fraida não tive outra opção a não ser desmaiar. Meu desmaio durou cerca de 3hs. Quando acordei a banda já estava instalada no hotel. Matamos tempo na internet até chegar a hora de conhecer a night life de Foz do Iguaçú. Era o Dia Zero. O dia antes do primeiro dia. Show, só na noite seguinte. O pessoal queria bagunça. E tiveram.

"Não vá sem beber o último copo, pois talvez nunca mais virá aqui."
(Deluxe Trio - Mixtape)

Nossa primeira parada foi no Bar do Véio, na saída de uma Universidade que não lembro o nome. Um boteco de esquina com mesas na calçada e cerveja gelada a preço honesto. Embalados pelas histórias do Fernandão, começamos a beber e conhecer pessoalmente algumas figuras locais, como a Boca de Carpa (o peixe foi mudando pra lambari, tilápia e outros conforme a história foi sendo contada mais vezes). O primeiro cara da banda com quem encontrei foi o Marcelão, novo baixista que entrou no lugar do Guta, vindo diretamente de Salvador, Bahia. Ainda que ele desconte toda sua ferocidade no bigode que cultiva com orgulho e nas tijoladas que manda no palco, o "Senhor" é puramente um baiano típico. Tranquilíssimo, alto astral, sempre bem humorado. Figura única. Cansado da viagem e com resquícios de uma gripe mal curada, o outro Gabriel da banda, o Arbex (aka Sanfoneiro) decidiu ficar no hotel. Empolgado com a proximidade entre os países hermanos, o Bil tinha ido sozinho, de ônibus, conhecer a Argentina, na outra fronteira. O último Zander que faltava era o baterista Leo "Meu Rei", que nos encontrou mais tarde no Bar do Véio. Num determinado horário Bil e Sanfs também se juntaram a nós e começou a saga pelo segundo round daquela noite.

"... chegar no Roda Viva tu vai ser homenageado."
(Raimundos - Puteiro em João Pessoa)

A idéia era conhecer o point do verão de Foz do Iguaçú, um bar que também não lembro o nome. Passamos na frente (superlotados em 8 no carro do Rafa) e o lugar estava às moscas. Rodamos atrás de outras opções e acabamos em frente a um luminoso onde se lia "RODA VIVA". Um de nós foi escalado para checar a qualidade do recinto e voltou empolgado, dizendo "tá animal, vamos nessa!". Cinco cruzeiros por cabeça e ali estávamos, visitando "a casa das prima". Long story short, teve nego sonhando acordado com a paraguaia Dulce por uma semana.

Na manhã seguinte voltamos ao Paraguai. Dessa vez fomos sozinhos. Eu, Luan e o Zander, sem o Rafa como guia. Atravessamos a pé mais uma vez, após 2 minutos de conversa com um policial. O Luan, assim como eu, está sem documentos. A única coisa que tínhamos em mãos era a carteira de trabalho. De acordo com o Mercosul, os únicos documentos válidos para deixar o país são passaporte ou carteira de identidade. O engraçado é que isso só é válido se você atravessa pro Paraguai a pé. De carro ou moto você pode ser um assassino procurado pelo FBI que ninguém sequer vai pedir seus documentos. Da-lhe, Brasil! Uma vez do outro lado, era hora de criar bolhas IMENSAS nos pés, de tanto andar. Almoçamos num restaurante suspeitíssimo numa viela paraguaia e voltamos pro Brasil. É muito incrível a diferença num espaço físico tão pequeno. Assim que você atravessa a ponte de volta pra casa, até o ar fica mais leve. O calor dá uma trégua e caminhar é menos penoso.

À tarde alguns de nós resolveram descansar enquanto outro foram fazer turismo e conhecer as Cataratas do Iguaçú. Mesmo com os pés destruídos, fui junto. Não me arrependi nem um segundo. O lugar é impressionante e a vibração do momento foi especial. Resolvemos que vamos fazer tatuagens pra eternizar aquela vibe, só estamos resolvendo problemas de horário. Falta tempo. Enfim, se aproximava o momento do primeiro show da Tour Sul 2010 e parecia que estávamos juntos há vários dias.

"... e assim a gente vai, até o final. Até a parede mais próxima, pra nos fodermos ou derrubá-la."
(Zander - Outro Dia Mais)

O show de Foz foi numa quinta-feira. Sem feriado nem nada, numa cidade que não é exatamente conhecida pela cena independente, um pico afastado do centro marcado pra começar enquanto os jovens ainda estariam em aula. O que esperar? Bom, talvez a coisa mais importante dessa turnê foi a falta de expectativas. Conversava isso com o Sanfs no camarim do Molotov Rock Bar enquanto o pessoal do Amnesia, banda de Cascavel que nos acompanharia pelos 3 primeiros shows, passava o som. Eu não lembro de uma outra banda que tenha feito uma turnê assim no Brasil, com shows em praticamente todos os dias da semana, inclusive segunda-feira. E tudo bem, a banda estava lá pra mandar brasa, com público de 10 ou 1.000. A cerveja estava gelada e deu pra confraternizar com a galera local, trocar uma ideia e dar risadas. Pra mim foi um começo difícil porque a iluminação do palco era bastante precária. Isso se repetiu muitas vezes durante a turnê, talvez porque essas casas de rock alternativo tenham esse estigma assumido de ser um lugar escuro e "do mal". Então com frequência as únicas luzes são vermelhas e quase que invariavelmente o teto (e o chão e as paredes e tudo que se vê) é pintado de preto. Um pesadelo para fotógrafos, mas nada que não seja contornável. Foi ótimo pra eu testar meu equipamento novo, também. Pela primeira vez fotografei com uma câmera com grip, o que a deixa bem mais pesada, apesar de melhorar muito em termos ergonômicos.

Fotos do show em Foz do Iguaçu; Motolov Rock Bar:
http://venancio.tumblr.com/post/508787869/zanderfoz

No próximo post, a viagem pra Cascavel e aventuras pelo Norte / Oeste do Paraná.

09 março 2010

Sick of it all

O iTrip, dispositivo que permite que você ouça as músicas do seu iPod no rádio do carro por frequência FM, é uma mão na roda. Já falei sobre como ele me livrou dos gigantescos cases de CD. O problema é que ainda não adquiri o costume de montar playlists e jogar no shuffle um iPod com mais de 30 mil músicas geralmente faz com que você ouças coisas que não está muito afim (ou sequer lembrava que tinha no aparelho). Há tempos eu não tenho copiloto pra trocar as músicas por mim, então essa tarefa é um pouco perigosa, no trânsito. Não mais do que fotografar dirigindo, coisa que faço mais do que deveria, mas ainda assim, perigoso.

Essa introdução imbecil é só pra dizer que, numa dessas trocas de disco, acabei escolhendo "qualquer um" e caiu "The Bragg & Cuss" do Rocky Votolato. Eu vinha pra faculdade já com aquela nuvem de melancolia sobre mim quando as baladas desse americano de Dallas, Texas, começaram a "piorar" as coisas. Estudo à noite e agora, com o fim do horário de verão, saio de casa nos últimos resquícios da luz do dia. No horizonte a serra do mar se silhuetava em tons de vermelho. As nuvens lilás com uma faixa vermelho-sangue anunciando o sol a se por. O trânsito lento.

Tudo aquilo me deu a vontade de dirigir além do meu destino. Até que a gasolina do carro acabasse, e então eu sairia andando até que, sei lá... minhas pernas sucumbissem pelo esforço ou qualquer outra coisa que me fizesse parar. Simplesmente para não estar mais aqui. Pra não estar mais assim.

Nos últimos tempos é cada vez mais raro eu fazer o que realmente tenho vontade. Por diversos motivos. Hora por (falta de) saúde, hora por (falta de) dinheiro, muitas vezes por falta de um pouco mais de força de vontade mesmo, assumo. Hora porque não depende só de mim e ainda mais raras são as vezes em que as minhas vontades coincidem com as da outra pessoa. Minhas costas queimam e me impedem de dormir bem, mesmo com o colchão e travesseiro especiais. Minha mandíbula dói, parece fora do lugar, me impedindo de dormir bem, mesmo com os remédios. Meu peito se aperta e a angústia cresce, me impedindo de dormir, independente dos meus esforços pra relaxar, não criar tantas expectativas.

O caminho tem sido tortuoso, com doses imensas de azar e desencontros. Reclamar não adianta, eu sei. É inclusive muito chato pra quem acompanha. Eu sei. E tenho buscado outros caminhos. Minha vida profissional está em uma de suas melhores fases. Acabei de adquirir um equipamento novo com o qual eu sonhava há tempos. Tenho me encontrado mais com meus amigos e passo momentos incríveis com eles, me divirto. O problema é quando vou embora, quando chego em casa. Quando estou sozinho. O problema é estar sozinho há tempo demais. Muito sozinho. E por isso essa vontade de sumir daqui. De estar em outro lugar. De viver outra vida qualquer. De sair dirigindo até a gasolina acabar e depois andar até minhas pernas cansarem... até eu cansar. Porque estou cansado. De tudo.

10 fevereiro 2010

Doze Fotos

O fotógrafo Jack Hollingsworth propõs hoje em seu blog um desafio para si e para todos nós: realizar, durante o ano de 2010, 12 fotos realmente memoráveis. Uma por mês. Em tradução livre feita por mim, aqui vai o recado dele:

Adoro essa frase do Ansel Adams - "doze fotografias significantes durante um ano é uma boa margem." Agora, garantidamente, Ansel era um fotógrafo de paisagens. Que fotografava em 4x5. Que aproximou-se de cada assunto com delicadeza e de forma metódica. Não como a maioria de nós, fotógrafos de câmera em punho, clicando freneticamente ao bel-prazer. Mas a questão é tão relevante e aplicável a nós do que quando ele proferiu essas palavras, anos atrás.

O digital, sem dúvidas, fez a fotografia mais acessível, disponível. Mas será que fez a fotografia mais relevante? Relevante significando notável, memorável, rara, incomum. Suas fotos são relevantes, nesse sentido? Você consegue editar um conjunto de doze fotografias tiradas em 2009 e dizer que todas são excepcionais e extraordinárias?

Nós todos (eu incluído) disparamos toneladas e toneladas de material. Mas não é o volume do nosso trabalho que vai deixar uma verdadeira marca - é o valor do nosso trabalho. E o significado para aqueles que são atingidos.

Veja, o significado que Ansel atribui não é simplesmente o significado que você atribui às suas fotografias - embora, claro, essa seja uma parte importante da equação. Mas é a importância que outros atribuem e atribuem a suas fotos que as torna realmente dignas de atenção, cruciais, de peso.

Fotografias significativas transcendem o sentimento pessoal. Além disso, elas têm que ser tecnicamente boas. De composição agradável. Conteúdo cheio de emoção, significado. Visualmente interessantes e agradáveis.

Tenho olhado para meu próprio trabalho com um olhar crítico, ultimamente. Há provavelmente 100 ou mais fotos, no meu material, que eu orgulhosamente colocaria na categoria "significativas". Nada mau. Mas ainda há muito mais a fazer.

Henri Cartier Bresson disse melhor do que ninguém: "Suas primeiras 10.000 fotografias serão as suas piores." Ele estava certo. E não estava falando de 10.000 cliques (o que você poderia possivelmente fazer em um final de semana). Ele estava falando de 10.000 fotografias editadas.

Talvez todos nós precisássemos reduzir o volume de material. E focar acima, no valor. Pense significado, não quantidade. PEnse em significância, não escala e tamanho.

Esta é a minha meta para 2010. Conseguir uma foto matadora, com significado, por mês. Para adicionar ao meu portfolio. Para conduzir com elas minhas campanhas de marketing. E mais importante, para deixar um legado que tenha significado.

Lhes prometo isso - a maior parte do que você clica durante sua carreira, mesmo o que sai bom, não será lembrado pela história. Mas a história lembrará de seus cliques que tem significado. Aqueles que você construiu... um clique de cada vez, uma vez por mês.

Doze fotos. Um por mês. É tudo que você precisa pra ser lembrado. Para ser significante. Alguém se atreve a se juntar a mim? Seja parte do grupo "TWELVE" (DOZE) Escreva para atjack@jackhollingsworth.com se estiver interessado.


Para ler o original em inglês, acesse o blog oficial do Jack clicando aqui.