Acordei por volta das 10:30 de segunda-feira, dia 12 de abril. Na verdade os dias da semana pareciam sempre os mesmos, pra mim. Desde o início da tour, era sempre sexta ou sábado na minha cabeça. O foursquare me ajuda a lembrar de horários e datas, bastante útil.
Essas pausas em hotel são boas pra reorganizar a mala, separar as roupas sujas, verificar quantas cuecas e pares de meia ainda restam, essas coisas. Fiz isso, organizando também meus equipamentos de foto, e tomei um banho rápido. Por volta de meio dia todos estavam no saguão do hotel encontrando a grande fera Cassio, organizador do próximo show, na cidade vizinha de Canoas. Ainda não entendi muito bem a geografia local, mas sei que estávamos em Porto Alegre, o Cassio mora em Sapucaia do Sul e o show seria em Canoas. Tudo bem, vamos nessa! Carregamos os equipos em dois carros e partimos, ainda com muito sono e mais uma vez famintos.
Chegamos ao QG do Cassio em Sapucaia, o local onde dormiríamos após o show. Frigobar entupido de cerveja Polar, Xbox, WiFi e colchões pra nos esticarmos. Recepção de gala! Ficamos por ali meio dormindo, meio acordados, até que resolvemos que iríamos almoçar no Canoas Shopping. Pro meu desespero, o que nos esperava era uma caminhada curta até o trem / metrô e outra caminhada, essa não tão curta, até o shopping. E tudo de volta. Ok, vamos lá! Curativos nos pés refeitos, sol pegando com força, ciático me dá um olá, me manda um oi. Meu Stacker Triplo do Burguer King começou a ser devorado às 16:20. Duvido que ele tenha sobrevivido até as 15:00, com a fome que eu estava. Todos alimentados, voltamos pra Sapucaia e ficamos jogados no quarto do Cassio, conversando, vendo videos de black metal e bebendo polar. Alguns cochilaram, outros foram cortar o cabelo (e acabaram por fazer barba, cabelo e bigode), enfim... relax.
"... e se ela quiser beijar alguém não é problema seu, nem meu."(Zander - Como arde, sô!)Lá pelas 22:00hs chegamos ao Wave Music Hall, em Canoas. Descarregamos os equipos no camarim, demos um confere na estrutura de palco, luz e som e fomos comer na lanchonete ao lado. Mais sanduíches monstros. Era meu segundo ou terceiro X-Coração da tour, espetacular. Mais cervejas por ali, confraternizando com a galera local, sorriso ao ver que uma certa mocinha de PoA tinha aparecido... enquanto Marcelão e Leo usavam guardanapos pra montar um novo set list pra noite, que recebeu olhares de desaprovação do resto da banda (e meus também, era muita ousadia abrir o show com aquela música).
Pra uma segunda-feira, em Canoas - RS, o show até que contou com um público bacana. O local não era dos piores pra se fotografar. Claro que era todo preto, com excessão de uma parede de tijolos aparentes atrás do palco. Eu não sei de quem foi essa ideia, mas vocês podem imaginar o que acontece com a acústica de um lugar se você reveste a parede que fica atrás da bateria com tijolos a vista. Até onde eu sei esse foi um dos shows que mudou de lugar na última hora, então a estrutura da casa não era ideal em termos de som. O Leo sofreu um pouco com os pedestais e pratos caindo e tambores andando de um lado pro outro, o som da guitarra do Bil lembrava um pouco um chuveiro elétrico brigando com uma colméia de vespas, mas nada os impediria, nesse show ou nos próximos, de mandar toda brasa que tinham pra mandar. E assim foi!
Fotos do show em Canoas; Wave Music Hall:
http://venancio.tumblr.com/post/520285764/zandercanoasO Cassio tinha mentido pra todo mundo que o show seria no dia do aniversário dele, então vários amigos dele apareceram e no final do show ainda rolou um parabéns / confraternização. Foi mais ou menos na hora em que o Bob Marley apareceu e levou a menina-sorriso embora. Não se pode ganhar todas. Voltamos pro QG ainda a tempo de acabar com as cervejas do frigobar do Cassio, dar algumas risadas e desmaiar. Disseram que dormi abraçado no MacBook, mas eu acho que é mentira.
No dia seguinte rolou um almoção na casa do Cassio e ele nos levou de volta pra Porto Alegre, onde a banda faria um show extra no Estúdio Aliens. No caminho todo o Luan tentava contato com o Knela pra agilizar nossa estadia na capital gaúcha por mais um dia, mas o cara (ou o celular do cara) tinha desaparecido. Chegamos no local por volta das 13:30. Obviamente estava fechado. Mais algumas ligações perdidas e finalmente conseguimos contato com o Knela, podendo assim liberar o Cassio que já estava atrasado pro trampo. Valeu por todo o corre, cara! Poucos minutos depois, o Knela chegou e fomos procurar um hotel pra ficar. Achamos um bem barato com espaço pra 4 pessoas. Os outros 2 (decidimos que seríamos eu e o Leo) ficariam no Estúdio. E então conhecemos outra grande fera desse rolê: Alemão.
"Eu sei que é dose e até estranho, não deveria me sentir assim..."(Zander - Ponte Aérea)Alemão é o dono do Estúdio Aliens, em Porto Alegre. São duas salas de ensaio com equipamento bem bacana com bar em anexo, no andar térreo. No andar de cima é a casa do cara. Um quarto muito doido repleto de memorabilia roqueira. Set lists de shows gringos, pôsteres e cartazes, centenas de CDs e DVDs, faixas, bandeiras e credenciais. O cara trabalha como roadie de bandas gringas que passam pelo Brasil, aluga equipamento pra show, toca numa banda, enfim... vive no rock. Já viajou pra Europa num esquema pé duro total, trampando de roadie por comida e lugar pra dormir, nos mostrou dezenas de fotos desse rolê maluco. Visualmente, o cara parece um bárbaro viking das histórias do Conan. Loiro, cabeludo, barba gigante trançada. Gente finíssima, nos ofereceu o que tinha e o que não tinha (e olha que o cara tinha um pouco de tudo). Estávamos tão à vontade que o Luan chegou a dormir na cama do cara e babar no travesseiro, enquanto assistíamos aos DVDs que o cara tinha, ouvíamos músicas e histórias, regados a cerveja Polar e um green de potência poucas vezes vista por esse organismo que vos escreve. Não que eu seja o pai do bol, muito pelo contrário. Conto nos dedos da mão quantas experiências naturais dessa espécie eu tive na vida. Mas bicho, eu estava vendo gnomos (e vikings). Entrei numa vibe tão errada que achei que o Alemão iria roubar meu rim e vender no mercado negro, tava começando a ficar Paranoid mesmo. O Airbourne mandava brasa no DVD do Wacken Open Air, o Luan babava, Marcelão lá no outro canto tomando uma cerveja sossegado e o Leo do meu lado tinha um semblante de quem havia se perdido e nunca mais seria encontrado. Nisso outros amigos do Alemão tinham chegado, alguns no mesmo visual viking e eu só pensava: "
fodeu, vai morrer todo mundo!" Sei lá quantas horas depois consegui convencer os caras de que precisávamos comer alguma coisa e seguimos pro (dizem) tradicional Alfredo Restaurante e Café. No caminho a minha pira só me fazia pensar que quando voltássemos todo nosso equipamento de música e foto teria sido vendido e nós seríamos feitos escravos num barco viking.
O X-Coração do Alfredo me livrou um pouco dessa teoria maluca. Comi dois, gigantes. Voltamos pro estúdio e obviamente tudo estava na normalidade. Tentei relaxar no quarto que o Alemão tinha nos providenciado e comecei a me sentir mal por ter pirado tão errado. O cara realmente é uma fera, tava fazendo o possível pra nos acolher bem, e eu achando que seria assassinado. Ok, as paredes do quarto pichadas com crucifixos invertidos não me deixavam relaxar 100% naquele momento, mas só temos o que agradecer à hospitalidade do cara, mesmo!
"... ou você vai me ligar pra dizer que hoje vai complicar?"(Deluxe Trio - Ou não?)Porto Alegre talvez seja a cidade que abriga mais "conhecidos que não conheço". Pessoal com quem converso pela internet a algum tempo mas nunca encontrei pessoalmente. Uma amiga em especial não pode aparecer por lá pra dividir histórias e cervejas e isso me marcou um pouco, mas entendi... quem sabe da próxima.
No final das contas o Leo ficou no Estúdio mandando mais cervejas e fui pro hotel com o Luan e o Marcelão, pra tentar dar uma cochilada antes do show. Em turnê você aprende uma coisa básica: nunca deixe passar a oportunidade de 1) tomar banho, 2) se alimentar e 3) dormir. E assim foi, até o horário de voltarmos pro show no Estúdio Aliens. Na verdade, um ensaio aberto. Era uma sala de ensaio com equipamento muito bom (o melhor som da turnê até então, disparado) mas espaço pra não mais de 30 pessoas bem apertadas. A luz branca foi ótima pras fotos, pude brincar com ISO mais baixo pela primeira vez. As paredes lembravam a substância do relato anterior, meio verdes, meio amarelas, prensado... rolou legal, a banda pode experimentar uma mudança no set list, o ar condicionado fazia a sala me lembrar da minha cidade no inverno e enfim, eu estava em casa. Antes da meia noite o show já tinha acabado e estávamos mais uma vez na vibe da confraternização na área externa do Estúdio Aliens.
Fotos do show extra em Porto Alegre; Estúdio Aliens:
http://venancio.tumblr.com/post/522183091/zanderpoadoisA primeira coisa que li sobre Porto Alegre quando cheguei na cidade foi um recado do Cuper no Twitter dizendo que eu só precisava fazer uma coisa estando lá: comer no
Speed. Mais uma vez o Cassio fez esse corre salva-vidas. Ele tinha colado no show e foi até a lanchonete buscar os pedidos. Era o meu sexto Xis-Coração em 2 ou 3 dias. O maior de todos e também o mais gostoso. Tínhamos um vôo marcado pras 6:00am, mas ninguém parecia se importar. Um pouco mais tarde, perto das 3:30am, voltei ao Hotel Acaju (que tinha um A caído e pra mim sempre será Hotel Caju) com o Sanfs e o Luan. Antes demos um oi pra Professorinha, figura lendária das calçadas da Farrapos, só pra conferir o material, sem aula particular.
Mais uma vez no hotel, mais um remanejamento na mala, menos horas de sono. Às 5:15am meu despertador tocou e era hora de partir pro aeroporto e deixar Porto Alegre pra trás.
A seguir: day off em Curitiba.