29 julho 2009


Hoje eu quis te comprar flores. Mas não naquela floricultura ali atrás do mercado, há duas quadras do teu apartamento. Aquela sempre está fechada. Tem um sex shop em anexo, sempre fechado também. Deve ter falido. Então eu andaria mais umas 5 quadras até aquela outra, menorzinha, que fica na mesma rua do teu antigo emprego, sabe? Já comprei ali uma vez e mandei entregar durante teu expediente, com um cartão.

Ignorando o fato de que ainda que eu comprasse flores hoje elas murchariam antes que nos víssemos de novo, outras coisas me levaram a não comprá-las. Imaginei as flores ali, no pequeno espaço físico entre as toalhas molhadas e o copo de plástico vermelho com cinzas de cigarro e dois dedos d'água. Ou no espaço da tua memória entre a última caixa de bomboms e o caderno onde te escrevi uma carta por dia durante o mês que você passou fora. Esse espaço ainda menor, sem importância. Imaginei que essas flores teriam o mesmo impacto de quaisquer outros inúmeros agrados, mimos e surpresas nos quais dediquei tempo e dinheiro tantas vezes: nenhum. Porque "eu faço demais" e isso tira a validade dos feitos, segundo ouvi de ti.

Elas provavelmente morreriam de sede e desgosto. Por falta de água e admiração, porque eu imagino que as flores tenham disso. Precisam ser admiradas pra sobreviver. Ainda mais essas, frágeis orquídeas, tão femininas, delicadas e carentes de cuidados. E que tão pouco tem a ver contigo, sempre tão forte e independente.

Hoje eu quis te comprar flores. E quis entregá-las pessoalmente, com um cartão e lágrimas nos olhos por estar de novo em tua presença. E quis que isso te tocasse, mesmo sabendo que muito mais nunca te tocou. Mas eu quis te comprar flores. E num breve momento de razão em meio a esse devaneio todo que criei pra nós dois, esse reencontro utópico, resolvi que não devia. Então fiz essa foto. São minhas flores pra você. Sem a textura no tato, o odor no olfato, sem as lágrimas no paladar, escorrendo na face e tocando a boca entreaberta. Flores assim, sem textura, cheiro ou sabor. Como acho que nos cabe. Como o que nos resta.

8 comentários:

Manulices disse...

Vê, a foto é belíssima, mas a gente merece o tato, o odor, o paladar e tudo de vivo e latente que as coisas tiverem. Essa orquídea merece mais que uma moldura, merece um espaço bem fresquinho. Leva ela pra ti!

(:

Carol =) disse...

Não desperdiçe flores, nem tempo, nem auto-estima, nem amor próprio, nem lágrimas, nem ouse perder algum dia da tua vida em nome de quem quer alguém menos do que você é..
Tem gente burra no mundo, mesmo..
Flores bonitas não se deixa na mão de quem nao merece..
Felicidade, principalmente a sua, não se deixa na mão de ningúém.. ;)

beijoo

Igor Bispo disse...

ainda escrevendo bem garoto... aquelas velhas aulas com o tio Wes?!

Erick Tedesco disse...

Incrivel como eu já passei por tudo isso exposto no texto. desde o "eu faço demais" e os devaneios de um encontro imaginário...e as flores, bem... no dia que as comprei já era tarde.

Aline Correa disse...

a foto é incrivel. eu te achei pela communidade do William Fitzsimmons no orkut. achei seu blog muito interessante! espero que você esteja escrevendo mais.
você gosta do sleeping at last?

- aline maira

Marina Bellini disse...

triste.

não mais triste do que eu sinto quando você não me responde.. Nós conversávamos tanto há alguns anos atrás... Não sei o que te fiz pra você me ignorar assim =\

Venâncio Filho disse...

Line, não conheço a banda, vou procurar. Obrigado pela dica.

E Marina, se te ignoro, não é uma coisa consciente. Pode ser que eu realmente esteja ocupado ou algo assim. Me desculpe!

BubbleDesign/Bruno disse...

pô não tava ligado que tu também tinha um blog...
bom vi e comentei esta foto lá no flickr.
já estou te seguindo .
abs cara
t+